sábado, 19 de janeiro de 2013

O QUE FAZ A ADMINISTRAÇÃO DE UM PREFEITO SER RUIM?

Benedito Carvalho Filho

O último número do Jornal Pessoal, o nº 528, traz como matéria de capa o prefeito sorridente e cheio de ânimo penetrando no seu gabinete. Ao lado da sua mesa uma bomba relógio armada e o tic-tac do relógio.
O simbolismo, segundo a minha interpretação, é que o novo alcaide corre contra o tempo e terá como desafio administrar uma cidade arrasada, como a maioria das cidades brasileiras durante várias décadas.
A carta aberta do jornalista Lúcio Flávio Pinto afirma, entre outras coisas que a vitória de Zenaldo Coutinho terá que ser legitimada por mudanças imediatas, pois Belém não suporta mais a degradação da vida pública que, segundo o jornalista, está indo para o bebeléu.
Ao ler cuidadosamente a Carta Aberta por Belém, assim com a lista de propostas feita pelo jornalista, não pude deixar de me perguntar: o que faz a administração de um prefeito, ou mesmo do governador, ser ruim? Será que é somente a falta de compromisso com a população? Ou porque pensa somente nos seus interesses particulares, aliando-se com grupos econômicos que só querem, como na lei de Gerson, levar vantagens em tudo?
Um prefeito quando ganha uma eleição é membro de um partido. Para ganhar uma eleição, como fez Zenaldo Coutinho, assumiu compromissos, fez alianças, foi fortemente apoiado pelo governo estadual, que financiou a sua campanha. Ele não age movido somente por seu voluntarismo e, dependendo, do perfil do partido que faz parte, terá uma margem de manobra para governar, porque, afinal de contas, ele não é somente um administrador, mas sobretudo um político, como seus projetos, suas ambições, como bem nos ensinou Maquiavel.
Acho as propostas do jornalista exposto da sua Carta Aberta excelente, mas falta um ingrediente de fundamental importância: o povo, a organização popular. A Carta redigida por um cidadão como o Lúcio Flávio é louvável – e quantas ele já fez nas administrações anteriores e restou só o silêncio, como ele mesmo reconhece.
Não acredito em um prefeito, seja lá de que partido for, se não for capaz de abrir o diálogo e a interlocução  com os governados, com a sociedade, o que não significa ser populista ou demagogo. Um prefeito se torna ruim não só quando não tem ética, mas quando se encontra diante de uma sociedade civil débil, desorganizada, amorfa, acéfala, que facilmente é seduzida por propostas que nada têm a ver com seus reais interesses.  
Gostaria imensamente – será um sonho utópico? – que as propostas do jornalista fossem apresentadas pelas representações populares da cidade de Belém e não somente por uma figura pública como o Lúcio Flávio. O governo que se diz democrático sem participação popular acaba no exemplo que o mesmo JP descreveu na matéria da página 3 (Procuradores do Estado são advogados do povo?),onde o que se viu uma festa dos notáveis, pessoas bonitas, bem vestidas e perfumadas, a massa cheirosa, como dizia uma jornalista de um jornal paulista.
Também pensei: será que as propostas apresentadas na Carta Aberta correspondem às principais reivindicações da grande maioria da população belenense? Por exemplo: por que um Museu do Cirio? Assim poderiam ser questionadas varias outras propostas.
O meu receio não é o possível silêncio do alcaide, mas o silêncio do povo de uma cidade que se vê diante de problemas graves e se sente impotente para agir diante da corrupção que cresce e aparece a partir das oportunidades proporcionada pela falha em administrar em escala e a complexidade com sucesso.
O povo brasileiro, e o paraense, em particular, é um povo trabalhador, ao qual infelizmente ainda faltam habilidades necessárias para administrar os sistemas complexos criados espontaneamente por uma população que se multiplicou por dez ao longo do último século. Belém é uma das 13 cidades brasileiras com mais de 1 milhão de habitantes, onde existem ineficiências e injustiças.Uma das prioridades de um alcaide, deveria ser a educação, a criação de uma melhor infraestrutura nos bairros, que proporcionasse um melhor atendimentos de saúde e outros aspectos, cujas deficiências o povo que reside nas chamadas Baixadas conhece muito bem, e, por isso, merece ser ouvido.
 Um prefeito que não foca sua administração na educação é um prefeito ruim, que governa para a massa cheirosa. A educação não apenas para reduzir as desigualdades, mas para dotar a população de senso crítico, pois sem saber ler e escrever ela não terá acesso às informações e não poderá participar da vida pública, e muito menos ler o Jornal Pessoal, como afirmei no meu último comentário.
Espero que esse pequeno espaço incentive um maior debate na cidade. Tenho a esperança que a Carta Aberta do JP seja aberta e destinada não só ao prefeito da cidade, mas lida, discutida e ampliada pelas reivindicações do povo desta cidade onde nasci e cresci.

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