terça-feira, 7 de agosto de 2012

A SOCIOLOGIA COMO ARTE DE INTERPRETAR O MUNDO MODERNO

                                                                          Benedito José de Carvalho Filho
                                                                         Doutor em Sociologia e professor
                                                                         Da Universidade Federal do Amazonas


 INTRODUÇÃO                                                                           


  
Quando iniciei, lá pelos inícios dos anos 70, o curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Pará, uma das primeiras disciplinas cursadas, juntamente com Teoria Sociológica, foi Metodologia do Trabalho Científico. A Universidade possuía, inclusive, um Departamento de Metodologia, onde todo estudante, seja lá de que curso fosse, era obrigado a passar. O mais curioso era que quem ministrava os Cursos de Metodologia Científica não eram professores oriundos do que se denominava “ciências exatas”, mas da área de sociologia, de filosofia e, em alguns casos, de economia. Muitos deles eram originários do clero, o que me faz pensar, hoje, que a busca da “Verdade” tinha saído do ambiente clerical da Igreja e se secularizado nas cátedras universitárias.
Penso que a introdução desta disciplina propedêutica no curso tinha a finalidade de assegurar, através de disciplina científica, o rigor metodológico da pesquisa em todas as áreas do conhecimento, sem considerar a especificidade de cada área do saber. A discussão do que era ciência, as questões epistemológicas correlacionadas a ela eram sumariadas e discutidas, mas não posso deixar de esquecer as marcas salientes do discurso positivista nas ciências sociais, percebidas, na maioria das vezes, como uma ciência inferior por não conseguir o rigor científico das chamadas ciências da natureza (a física, química, a biologia, a matemática, etc.). O chamado senso comum, a linguagem do cotidiano, de forma indistinta, era considerado conhecimentos de natureza inferior que a boa ciência teria que extirpar através da crítica epistemológica. Um conhecimento sem legitimidade, uma mera doxa, opinião, no sentido que os gregos atribuíram a esse termo, sem reconhecer que as ciências sociais, em especial a sociologia e a antropologia, constróem e edificam seu saber exatamente desse conjunto multifacetado de práticas e representações. Essa concepção ainda é amplamente divulgada nos compêndios didáticos de metodologia científica, o que demostra que essa concepção positivista e iluminista da ciência tornou-se um senso comum popularizado e arraigado entre nós.  

As coisas se passavam no meio da vigilância epistemológica exigida pelo Departamento de Metodologia mais ou menos segundo esse posicionamento de Jean Claude Milner, lingüista citado por Jean-Claude Passearon : “Impõe-se a opção incontornável: ou as ciências humanas são ciências e, então, o são no mesmo sentido em que são as ciências da natureza e dependendo da mesma epistemologia (de modo que o qualificativo “humana” não recubra nenhuma outra especificidade além do material); ou elas são efetivamente humanas (ou sociais, ou outra coisa) e, então elas não são ciências e não têm nenhuma epistemologia. Esta alternativa se propõe a todas...” [1]
A “poeira” positivista, com seu mimetismo metodológico, nos jogou no caminho incontornável de que nos falava Giddens, onde, na “esperança de um Newton nas ciências sociais, esperamos um Newton num trem que não vai chegar e ainda mais na estação errada.[2]
Como pano de fundo das discussões, as clássicas interrogações: quais são as bases onde em que edifica o conhecimento sociológico ? Que tipo de conhecimento elabora? Qual o papel da subjetividade e o grau de confiabilidade nesse tipo de saber?
Essa discussão é antiga e aí se situa como vimos, “a velha querela entre Ciência Positiva e Arte Romântica”.
O positivismo retira a sua força da tradição de pensamento que vem pelo menos das experiências práticas de Bacon e das deduções matemáticas de Descartes. Tomando a física como modelo, ele pressupõe um contraste natural entre a realidade e os símbolos que a representam. Nessa perspectiva, o sentido de uma palavra ou de uma expressão consiste quer no objeto, quer no comportamento a qual remete. São válidas, para ele, as proposições que correspondam a eventos ou a condições objetivamente verificáveis. Proposições que não satisfazem a tal exigência constituem erros, absurdos ou mera expressão de sentimentos. (ex.: a temperatura). O discurso científico só é objetivo na medida em que corresponda univocamente aos seus objetos, sem acrescentar nenhum juízo conotativo. Do mesmo modo que as mensurações obtidas da leitura de instrumentos, as fórmulas matemáticas representam outra componente da linguagem científica. A parte do discurso irredutível a uma ou a outra dessas componentes será então declarada subjetiva e por isso mesmo epistemologicamente sem validade: como um escudo simbólico atrás da qual a realidade continuaria a esconder-se. E na medida em que a linguagem comum permanece indispensável, é preciso expurgá-las da “entidades imaginárias” que ela dissimula para que possa enunciar a verdade objetiva da maneira mais exaustiva possível. (...) Assim, as metáforas, os significados pessoais – que são claramente “simbólicos e subjetivos”- são evacuados para o campo da poesia que, para os positivistas, não passa de uma “espécie de absurdo engenhoso”(Newton), ou “de que se deve dar conta muito mais como diversão ou jogos de espírito do que em termos científicos””(...)[3]  
Atravessei todo o meu curso de graduação marcado, por esse dualismo sujeito e objeto, subjetividade e objetividade, ciência e arte como coisas absolutamente dicotômicas.[4] Ou como se indagava Passeron:
Ciência ou não? Se sim, como as outras ou não? E se dependesse de uma outra forma de uso do espírito científico diferente da que as ciências da natureza ilustram, será que a sociologia estaria sozinha, única em seu gênero, sentada em seu banco de exceção?”[5]
Esta discussão é antiga e desemboca em vários caminhos de reflexão que constituem, segundo o meu ponto de vista, as questões centrais discutidas.
A primeira, discutido no segundo texto, Rumo a uma Estética Cognitiva para a sociologia nos propõe “pensar o modo de conhecimento e de criação na arte como recurso epistemológico e instrumento teórico para a sociologia, a fim de superar – pela dialetização dos seus termos – as dicotomias radicais da tradição positivista que impregnam as nossas ciências: sujeito e objeto, razão e sentimento, intrínseco e extrínseco, real e imaginário, história e mito, ciência e arte, etc.” (p. 8-9), onde se propõe a tese que de “não existe nenhuma diferença fundamental no modo como as artes e as ciências permitem organizar o mundo.”
A Sociologia é uma ciência da interpretação? É arte ou ciência?
À luz das questões levantadas, e tendo como referência os textos de Passeron ( em especial o capítulo 3, História e Sociologia – Identidade Social e Identidade lógica de uma disciplina ), Clifford Geertz ( O Senso Comum como sistema Cultural ) e Diatahay Menezes ( Ciência, Abutre com Asas de Triste Realidade e Sobre a Neutralidade da Ciência ) farei uma reflexão seguindo a trilha proposta por cada um desses autores, procurando destacar aqueles aspectos que considero fundamentais para responder velhas questões, sempre recorrentes e presentes, quando se discute a identidade das ciências sociais.

SOCIOLOGIA E HISTÓRIA

Inicio com uma constatação que considero fundamental sobre o tipo de conhecimento produzido pela sociologia e que parece, em alguns momentos, ter sido deixado de lado, quando se acentua os aspectos formais e empíricos do método sociológico. Marx já chamava a atenção para a historicidade de todo o conhecimento, criticando a pseudo neutralidade, a excessiva formalização do pensamento, como se tudo fosse uma questão epistemológica a ser resolvida dentro dos próprios princípios da lógica de construção do conhecimento.
Não existe conhecimento, por mais pretensiosamente científico que seja que não esteja marcado pelo contexto histórico de onde surgiu. “O traço característico da atividade científica não consiste em refletir o real, mas sim em imputar-lhe uma forma, um ordenamento, uma organização, uma classificação, um modelo; numa palavra, em construí-lo mediante quadros conceituais e teóricos cambiantes e refutáveis. Além disso, as noções centrais de nossa ciência são quase sempre conceitos indefiníveis, frouxos, analógicos, metafóricos, inobserváveis, construtos imaginosos do espírito humano na sua busca incessante de saber mais e às vezes de autoconsciência. O imaginário da ciência é assim tão caprichoso quanto o imaginário social de que constitui uma componente, e parte de sua história.” [6]
A ciência é uma “fabricação”.[7] Sua história não segue um percurso linear,  nem está descomprometida do poder dominante como muitas vezes se imagina.  Ela sofre transformações históricas, visto que não é criação eterna do espírito absoluto. São respostas efetivas às necessidades concretas dos homens.
A atividade científica, como qualquer outra prática social e enquanto uma das formas de cultura é inseparável do conjunto da sociedade em que se exerce. Entretanto, as ciências não são propriamente morais ou extramorais em seus conteúdos lógicos e epistêmicos, mas sobretudo nalgumas de suas funções, nas tarefas que cumprem dentro de determinadas circunstâncias e segundo certos fins propostos pela sociedade. Ora, como no caso de outras práticas sociais, uma dessas funções está certamente em assegurar a reprodução do sistema social a que servem ou pelo menos garantir a sua sobrevivência. Daí podermos afirmar que isso que costumamos chamar de “ciência pura” é como água destilada, que é pura mas ninguém bebe. A idéia de ciência como atividade neutra é, portanto, contraditória em si mesma, pois que significa atribuir-lhe o valor de neutralidade como um atitude de preferência a outras possíveis. Desse modo, sustentar a “neutralidade da ciência” representa de fato uma forma de ocultação ideológica de seu caráter histórico e de seu compromisso com interesses sociais dominantes.[8]
Passeron descreve de uma maneira clara e sintética, a convergência entre a história e a sociologia, mostrando-nos como é impossível estabelecer paradigmas estáveis, como em outros campos do saber.
Diz ele :
Podemos partir aqui de uma proposição simples que resume o mais claro da dificuldade que as duas disciplinas ( a história e a sociologia ) partilham : a língua de descrição do mundo histórico comum à história e à sociologia implica na impossibilidade de um “paradigma” estável. (p. 66).
A impossibilidade deve-se ao fato de as duas áreas de saber ( tão próximas) terem uma mesma base empírica: o curso da história do mundo, o que torna impossível “estabilizar uma teoria, uma língua protocolar de descrição e de interpretação desse mundo”( o grifo é do autor), p. 67. [9]
Ou seja, essas duas disciplinas, ao trabalharem com acontecimentos históricos singulares, irredutíveis, não podem, como na física e na química e outras ciências duras estabelecer parâmetros fixos de mensuralidade, nem obedecer leis consideradas paradigmáticas para toda a realidade social. Não é, também,  através da justificação da refutabilidade de Popper que a sociologia  (e muito menos a história ) se tornará uma ciência mais sólida, como ele mesmo ironiza na introdução de seu livro, mas é pelo reconhecimento de que as ciências históricas e sociais “jamais vão chegar à generalizações nomológicas, acessíveis apenas às ciências experimentais”.
Diz ele : “Em suma, em matéria de abrigo epistemológico, história e sociologia estão sob a mesma bandeira” (p. 68).
Se a sociologia não é somente uma ciência experimental de que forma considera sua forma de explicação de mundo social? Que tipo de “raciocínio sociológico” utiliza?
Aqui vejo uma das grandes contribuições de Passeron, pois a saída que ele nos apresente não é negar o valor empírico daquilo que ele pode nos oferecer em termos de mensurabilidade ( como o método estatístico ), mas de nos mostrar a impossibilidade – e a pobreza – de um raciocínio sociológico amarrado à quantificação sem considerar o contexto histórico onde são produzidos os dados. Em vários momentos, ele vai nos mostrar como podemos inflacionar uma pesquisa de dados estatísticos sem que, com isso, consiga explicar absolutamente nada, já que, muitas vezes, trata-se de acumular dados para provar um pequeno número de variáveis, o que torna a pesquisa irrelevante, apesar de sua empáfia de seriedade.
É melhor passarmos a palavra ao próprio autor :
A sociologia é, como todas as outras ciências sociais (...) uma disciplina histórica. Uma disciplina é histórica quando, em se tratando de considerá-los verdadeiros ou falsos, seus enunciados não podem ser desindexados dos contextos  de que são tirados os dados que têm um sentido para as suas asserções. É isto mesmo quando o trabalho desta disciplina  (essencialmente o da sociologia ) é indexá-la por uma tipologia em contextos ampliados graças à aglomeração de contextos construídos como análogos por meio de um raciocínio natural. A aglomeração argumentativa jamais pode ser reduzida à “agregação estatística”, à “conjunção lógica de preposições” ou ao “cálculo dos atributos” numa lógica formal. Deve-se tirar todas as conseqüências do fato de que o raciocínio sociológico se distingue da narrativa histórica por momentos de raciocínio experimental, mas que esses momentos de pureza metodológica necessariamente se alternam em sua trabalho interpretativo como outros momentos do raciocínio natural. Um raciocínio sociológico não pode ser de uma parte a outra nem do começo ao fim um raciocínio experimental. ( o grifo é do autor). O raciocínio estatístico que relaciona as variáveis para, na linguagem da probalidade, concluir por correlações que se fundamentam em constatação empírica, é realmente um raciocínio experimental, mas o é enquanto enuncia  nada sobre o mundo histórico: a partir do momento em que se coloca sentido no enunciado de suas correlações formais, as frases se carregam do contexto, dito ou não dito.”[10]
O raciocínio sociológico, como caracteriza o autor mais adiante, é como “um “vaivém” entre contextualização histórica e raciocínio experimental. Aí está a maestria ( ou a arte ) da construção de um trabalho sociológico : fundir o raciocínio experimental com o contexto histórico, onde, para mim, estão presentes a linguagem e o conjunto de representações sociais que os indivíduos e grupos utilizam como recurso para marcar sua presença no mundo.
Vejamos como Passeron reflete sobre o que ele chamou de “raciocínio misto”:
“Portanto, se confiarmos no exame da forma dos raciocínios naturais utilizados na argumentação sociológica, devemos considerar o raciocínio sociológico como um raciocínio misto, que, em nosso esquema, a situa entre o pólo do raciocínio experimental. Não porque seria colocado no “meio”- num lugar intermediário, no sentido “meio justo” aristotélico – ponto imóvel, uma vez marcados os extremos. Mas porque o raciocínio que funciona em um movimento de vai e vem, já que em seu modo de asserção e em cada uma de suas asserções ele se desloca entre os dois pólos que acabamos de identificar. E porque ele deve necessariamente deslocar-se, pois submete fatos datados e localizados ( fatos da história das sociedades humanas ) a um tratamento experimental  que momentaneamente deve esquecer essa datação e essa localização tais como estão ligadas numa configuração. Quando usa o raciocínio estatístico, o raciocínio sociológico só continua sociológico na medida em que é capaz de, em suas asserções, manter vestígios do fato de proceder experimentalmente numa situação não experimental.”[11]
Outra aspecto para o qual o autor chama atenção é que o raciocínio sociológico jamais deve confundir-se com o que chama de “idiografia”, “isto é, a crônica ou o inventário concebidos com o oposto da pesquisa das regularidades, de tendências ou de tipos capazes, pela generalidade das asserções que permitem, de dotar de uma inteligibilidade a descrição ou a explicação das singularidades”. [12] 
Para mim falar de uma estética cognitiva em sociologia significa reconhecer a pesquisa sociológica como uma arte de construção desse raciocínio sociológico, onde está presente não somente os métodos de investigação utilizados pelas ciências chamadas impropriamente de exatas, que têm a pretensão de objetividade científica e objetividade. A estatística a qual Passeron tanto se refere, é um dos caminhos, mas não o único. Assumir a idéia da neutralidade, além de ser um delírio positivista, significa conferir ao pesquisador social um status de semi-deus capaz de anular a possibilidade de que sua história pessoal e profissional venha influenciar a forma e o conteúdo de sua investigação.
A arte está em o pesquisador reconhecer a forte ligação que tem com seu objeto e, nessa interação, enriquecer a sua compreensão através de uma multiplicidade de dimensões ocultas. Se todo modelo investigativo é uma aproximação, que envolve a linguagem, o contexto histórico, a singularidade do acontecimento, é, por isso, também, arbitrário e carrega em si as aspirações e a visão do pesquisador, que não está insento de conflitos e interesses, pois está banhado pela história.
O sociólogo interfere na realidade social que estuda não sendo um mero espectador  porque participa, se projeta e se contempla no seu objeto de estudo. Ele redefine o que é observado, reconhece os limites de uma descrição interpretativa e assume que a leitura dos dados pode comportar interpretações diversas, a partir de outras perspectivas e quadros teóricos. É preciso optar, e é o sentido dessas opções que registra o que existe de mais interativo entre o pesquisador e seu objeto. O conjunto das escolhas atesta que todo trabalho de pesquisa social é também um exercício de autoconhecimento e alteridade, na qual, ao tentar revelar o objeto de estudo, o pesquisador revela a si próprio na intimidade da interpretação que ele formula.
O tipo de pesquisa a ser empreendida é escolha do pesquisador, e essa escolha é fruto de seu interesse e curiosidade, mas também de seu capricho e ilusão. Nem sempre ela é defensável apenas por argumentos objetivos. Freqüentemente a subjetividade para se manifestar,  manifesta-se com que criando uma intriga e uma forte inquietação. A compreensão mais profunda é,  às vezes, intuitiva, e a busca da verdade do objeto de estudo representa, em certo sentido, um contato profundo e revelador entre o pesquisador e aquilo que pode ser sua própria miopia, seu envolvimento com uma “causa” que ele - nem sempre conscientemente – defende e denuncia, censura ou tenta decifrar.
Assumir que o víés ou a parcialidade existe não significa, a meu ver, diminuir a importância dos métodos da pesquisa, e sim compreender que a realidade humana deve sempre ser vista como um crescente desafio, e que o conhecimento humano deve procurar ser visto na sua historicidade. Eis a arte que só se aprende fazendo, no próprio processo do ato de pesquisar.

O CONHECIMENTO NASCE DO SENSO COMUM E ELE RETORNA

Aprendemos nos manuais de metodologia espalhados por nossas universidades, que a ciência se distingue do senso comum como um conhecimento hierarquicamente superior, estabelecendo uma dicotomia que nos impede de fazer uma reflexão mais aprofundada, principalmente nas ciências sociais, que lidam basicamente com as representações que as pessoas fazem da sociedade, com sua linguagem e conjunto de signos e símbolos, que constituem e tecem a sociabilidade humana, fazendo do homem um animal essencialmente simbólico.
O tipo de  conhecimento científico, que surgiu na século XVII, com a revolução galileana, começou – nos atreveríamos dizer – a partir das observações do senso comum. Aliás, o que é a linguagem científica, senão “um conjunto de símbolos dotados de uma estrutura sintática, de regras semânticas que atribuem referência e sentido aos seus conceitos”? [13]
A ciência, portanto, é uma forma de olhar – não o único – o mundo; olhar que “tudo invade”, como diz Edgar Alan Poe, que constrói, também, os seus arquétipos, suas metáforas ( a  linguagem da ciência é carregada de metáforas ), os seus dogmas, ritos e poderes ( mesmo que provisórios e, por vezes, efêmeros).
Como nos mostra Menezes, “trata-se – quando se faz ciência – de criar uma aptidão autoreflexiva”, de compreender e inventar imaginários, “entendido como função instituinte da auto-poiésis do espírito humano, como abertura para a experiência inovadora, como operador criativo em todos os campos de pensamento”. Imaginário social que “se realiza mediante um jogo complexo de arquétipos, que são condensações históricas em constelações de regras, segundo as quais se articulam imagens, símbolos e mitos, para constituírem nos horizontes de consciência de uma cultura, a sua percepção do real, a sua visão de mundo.”[14] 
Assim, em todos os tempos, tivemos imaginários sociais elaborados sistematicamente – ou não -, em estreita relação com o espírito de cada época (chamado mais corretamente pelos alemães “Zeigeist”).
Na própria metodologia das ciências naturais verifica-se a influência do pensamento da época, de seu Zeigeist. É o conflito entre modos e pensamento aristotélico e galileico, onde cada tipo de sociedade tinha a sua própria compreensão do mundo social.”
No início da formulação do que poderíamos chamar de pensamento sociológico já existem formas mais ou menos elaborados de pensamento social, difuso, arquetípico, que se expressam no cotidiano, nas representações artísticas, na linguagem e em todos os meios onde o homem imprime sua marca.
Assim, por exemplo, na “Grécia, a discussão dos fatos sociais giravam em torno da política e da economia; no mundo romano, onde foi criado a jurisprudência, o pensamento se preocupou em erigir normas das relações do mundo romano com os povos conquistados. Na Idade Média, a preocupação dominante era a universalização do espírito, o jus divinum; no Renascimento, a reforma, os enciclopedistas, virão refletir depois, e sucessivamente, novas preocupações, novas idéias. A sociologia – que ainda não havia ainda conquistado esse nome que teria depois de Comte -, torna-se uma filosofia social. Os direitos individuais são afirmados, o livre exame torna-se necessidade. A preocupação com o bem estar social é uma conseqüência direta da visão dos males da sociedade e das lutas. [15]
Mesmo nas sociedades periféricas ao mundo ocidental moderno, desenvolveram-se formas de reflexão que não adquiram a linguagem da ciência, mas expressavam a realidade social através da arte e outras formas de manifestações culturais. No caso brasileiro, por exemplo, quando não existia sociologia, ou ela dava seus primeiros passos, quem elaborou e nos colocou diante da sociedade brasileira foi a arte. Foi Graciliano Ramos[16] retratando a realidade nordestina, no seu clássico livro “Vidas Secas”; Euclides da Cunha (1866-1909)[17] com várias obras que cobriam o nordeste e o norte do pais, dentre elas o famoso “Os Sertões”; Machado de Assis,[18] (1839-1908) que faz, com suas crônicas e romances, o melhor painel do Rio de Janeiro no final do século XIX a inicio do século XX.
A relação da arte-sociologia , como nos mostra Ianni,[19] "continua a alimentar uma controvérsia antiga e periodicamente renovada" e é "complexa, talvez insolúvel".
"As narrativas artísticas e científicas são criações intelectuais impregnadas de figuras de linguagem, imagens, metonímias, metáforas, alegorias, aforismos, parábolas. Ao mesmo tempo, são duas linguagens radicalmente distintas, já que uma é literária e a outra científica."
No entanto, "as narrativas sociológicas e literárias muitas vezes se aproximam", principalmente no que se refere "a construção de tiplogias".
"Ambas narrativas estão repletas de tipos e tipologias elaborados literária ou sociologicamente. São notáveis os tipos ideais que povoam a literatura: Hamelet, Dom Quixote, Robinson Crusoe, Don Juan, Fausto, Pai Goriot, Madame Bovary, Martin Fierro, O Senhor Presidente, Pedro Paramo, Macunaíma e outros. Assim como são notáveis os tipos ideais que povoam a sociologia: o burguês, o operário, o camponês, o tirano, o príncipe, o demagogo, o revolucionário, o intelectual e outros."
Mais do que isso, ainda como observa o autor citado acima, a arte literária, assim como o conjunto das artes, expressa o espírito de uma época."
          "Quando se fala em algo mais geral, característico da época ou conjuntura, logo se coloca o enigma do estilo de pensamento ou da visão do mundo. É como se houvessem algo no ar, um clima sociocultural particularmente novo ou provocativo, que alimentasse diferentes criações, não só de escritores e sociólogos, mas de também de outros, incluindo filósofos. Haveria inquietações, dilemas e ilusões predominantes, ressoando nas narrativas, interpretações e fabulações. É como se as narrativas, bem como outras criações, sintetizassem e decantassem algo que poderia ser essencial na época ou conjuntura".
E aqui entram outros componentes : a paixão, a intuição e a imaginação.
"Sim, a metamorfose da pesquisa em narração, conceito, categoria e interpretação, é sempre um processo no qual entra a imaginação. Não se trata da imaginação solta e inocente, mas instigada pelos enigmas das relações, nexos, processos, estruturas, rupturas e contradições que povoam a reflexão. Neste sentido é que a interpretação científica mobiliza rigor e precisão, tanto quanto paixão e inspiração".
Ou como diz logo em seguida :
"A paixão e a intuição podem ser as estradas pelas quais se chega a fabulação, território no qual se realiza tanto o conhecimento como a fantasia, tudo isso traduzido em narração. Narra-se para interpretar e fabular, ou para construir categorias e alegorias. Essa parece ser uma faculdade desenvolvida universalmente, ainda que segundo diferentes linguagens, parâmetros, modelos, paradigmas ou estilos."
 Se considerarmos o senso comum como um saber resultante de experiências levadas a efeito pelo homem ao enfrentar o problema da existência, veremos que cada geração recebe das anteriores a herança fecunda que não é só assimilada, como também transformada.
O conjunto de saberes – proposições racionas, crenças, mitos, expressões artísticas, linguagens – possuem, de uma forma ou de outra, reflexões sobre o mundo e, dependendo da cultura, são encontrados com maior ou menor grau de sofisticação. A possibilidade de conhecer, de fabular, de atribuir significado ao mundo, é universal em todas as civilizações, pois o ser humano habita a linguagem como os pastores habitam suas choupanas e o homem moderno os seus edifícios - reais e imaginários.. A ciência nasce do que se chama senso comum como forma de apreender-se e apreender o mundo. A sociologia é uma forma, dentre outras, de compreender, servindo, para isso,  do senso comum para construir suas categorias.
São linguagens, conforme nos mostra Geertz[20] – citando Wittgenstein – que se assemelham a uma cidade e trata-se de “saber até que ponto, nesses vários lugares ( da cidade), os aspectos da cultura foram sistematizados, ou seja, até que ponto eles têm subúrbios”.
Ou seja, análise que “inicie-se por um processo em que se reformule esta distinção esquecida entre uma mera apreensão da realidade feita casualmente (...) e uma sabedoria coloquial, com os pés no chão, que julga e avalia esta realidade.”
Essa distinção é absolutamente necessária.
A importância de tudo isso para a filosofia , é, obviamente, que o bom senso, ou outro conceito simular, tornou-se uma das categorias-chaves, talvez até a categoria-chave, em amplo números de sistemas filosóficos modernos.”
Mas, como nos mostra o autor citado, o “senso comum continua a ser, no entanto, um fenômeno que é presumido, e não analisado. Husserl, e depois Sulttz, trabalharam com as bases conceituais da experiência cotidiana, com a forma como construímos o mundo que habitamos biograficamente, sem admitir a distinção entre esta.”
A presumida pretensão de considerá-lo como um conhecimento ingênuo é discutível, assim como aquelas percepções que afirmam que ele é um conhecimento precário, distorcido e perverso, considerando como legítimos e racionais o saber filosófico e científico, como se o conhecimento dessa natureza não envolvesse um certo senso comum e a ele não retornasse ( sim, porque todo conhecimento científico se transforma, posteriormente, em senso comum, como podemos verificar em todas as áreas do saber).
Diria mesmo que o conhecimento sociológico que dispensasse, em nome de uma superioridade de saberes, o conhecimento oriundo do senso comum estaria desprezando o material e o objeto de sua própria prática científica, visto que boa parte  do nosso saber se constrói pela interpretação dos significados e nexos tecidos nas representações dos agentes sociais.
Não é por menos que se procura distinguir, como fez Geertz, o senso comum do bom senso, que é o conhecimento organicamente estruturado, coerente e crítico. [21]
Neste momento chegamos ao ponto central deste trabalho : se todo o conhecimento sociológico supõe o reconhecimento da historicidade das sociedades humanas, como nos mostrou Passeron,  e parte, fundamentalmente, da interpretação ( o que confere às ciências sociais uma dimensões hermenêutica, ou seja, a interpretação dos processos sociais ), que tipo de interpretação realiza quando se propõe analisar o mundo social ?
Partindo do pressuposto que parte do conjunto de representação que os agentes sociais fazem de sua própria realidade, de que forma, através de que meios ela elabora suas reflexões que se pretendem científicas ? Qual a sua relação com a arte e outras formas de expressão culturais ? 
Aqui surge a questão da interpretação nas ciências sociais.

A INTERPRETAÇÃO NA SOCIOLOGIA

Viemos discutindo até esse momento sobre o caráter interpretativo das ciências sociais, em especial da sociologia. Aprofundaremos mais essa questão, tecendo posteriormente algumas considerações.
O lugar das ciências sociais no campo do conhecimento científico sempre esteve mergulhado em águas turvas. Surgida sob forte influência do positivismo, sempre buscou uma semelhança como os métodos das ciências naturais, ou – com se diz – exatas. Uma espécie de “complexo de inferioridade” sempre marcou o seu desenvolvimento, provando grandes dificuldades para produzir um conhecimento rigoroso e específico sobre a realidade social, segundo os critérios do trabalho científico. Trata-se de uma ‘ciência’ que, por um lado, tem por objeto uma realidade que se auto-interpreta e, por outro não consegue alcançar o domínio de seu objeto a não ser por intermédio da compreensão e a interpretação. Além dos mais, é uma disciplina que produz, quase exclusivamente, interpretações.
Desde o século passado, Droyssen e Dilthey, reconheceram o dualismo científico e  o reconhecimento do estatuto particular das ciências do espírito. Depois deles, os termos dos embates evoluíram significativamente; mas a idéia da especificidade das ciências do homem permaneceu sendo defendida no interior de sérias críticas endereçadas, nos últimos trinta anos, ao projeto de uma sociologia positivista.
A primeira foi formulada no campo da filosofia das ciências sociais pelos opositores do positivismo lógico, baseados ou no segundo Wittgentein ou na hermenêutica filosófica de Heidegger e, posteriormente, de Gadamer. O argumento dessa crítica consiste, precisamente, em invocar o caráter auto-interpretativo e autodescritivo da realidade social, revelando as aporias de uma formulação científica dos fatos humanos concebidos a partir dos cânones do positivismo lógico. Para escapar dessas aporias, recomendaram que as ciências do homem e da sociedade fossem concebidas com ‘ciência da interpretação’, isto é, como ciências cujo modelo é a hermenêutica textual que, através da metódica exegese dos textos, revela o sentido ou a mensagem oculta que comportam.
O segundo conjunto de críticas emergiu do interior mesmo da disciplina sociológica. Foi a matéria dos que desenvolveram o projeto weberiano da ‘sociologia compreensiva’. Levando em conta a característica significante da atividade social, Max Weber fixou como tarefa da sociologia “... compreender pela interpretação a atividade social e, dessa maneira, explicar de forma causual seu encadeamento e seus efeitos”. As tentativas que deram corpo a esse projeto foram qualificadas de ‘sociologias interpretativas’, rótulo para designar correntes de inspirações diversas: sociologia fenomenológica de Alfred Shultz, o interacionismo simbólico caudatário de G.H. Mead e a Escola de Chicago, a sociologia do conhecimento de alguns discípulos de Shultz ( Berger, Luckmann, Cicourel), a etnometodologia e a análise de conversação.
         Quais são as possibilidades e limites da interpretação hermenêutica ?
Nunes[22] vai nos mostrar que a “crise atual dos fundamentos das ciências humanas, que se desvencilharam de seus paradigmas oitocentistas (...) se manifesta no discurso crítico dos métodos e teorias, propiciou não só a assimilação da dimensão hermenêutica, como também abriu caminho à distribuição topológica, não hierarquizada, dessas ciências.”
Cita como  o primeiro grande projeto de topologia desse domínio de conhecimento, como história diferencial”, a “arqueologia de Michel Foucault desde Les Mots e les Choses, quando “o homem passou a existir como objeto de discurso”. “(...) O campo das ciências humanas vem a flux juntamente com a finitude da condição humana, que se abre nessa figura dúplice, ser empírico e consciência transcendental, originário e distante de sua origem, temporal e limitado pelo tempo, condicionado pelas próprias realidade incontornáveis da vida, da linguagem e do trabalho que a consciência tenta em vão transcender.”
Mais adiante ele afirma magistralmente :
A consciência de serem produções históricas como práticas discursivas, caracteriza, parece-me, o estado atual da auto-reflexividade das ciências humanas, principalmente daquelas que batizadas por Foucault de ciências errantes – a História, a Etnologia e a Psicanálise – são inseparáveis da dimensão hermenêutica que lhe impõe uma demarcação topológica.”
Isso significa afirmar que a realidade social só se revela na e pela interpretação, em virtude de sua consistência própria. Ela é interpretada por aqueles que estão imersos nela (senso comum ), como são interpretadas pelos agentes sociais  (sociólogos, antropólogos, etc ).
Concluindo, ainda com Nunes, poderiamos dizer :
Em resumo, a localização dessas disciplinas como discursos interpretativos, passa pela posição de quem interpreta dados que são símbolos, linguagem e formas de ação, mediante uma pré-compreensão que lhe dá acesso à teoria, ora como leitor de múltiplos vestígios que o passado deixou no presente, ora, no caso da etnografia, como locutor em presença de outros locutores, cujo testemunho transporta para o plano coerente da escrita que o generaliza  teoricamente. Ao fim e ao cabo, a história diferencial do saber nesse domínio, sem jamais chegar a uma forma sistemática, é uma história diferencial de situações interpretativas que sempre  imprime do conhecimento o selo do inacabamento e da incerteza. A Hermenêutica é então apenas o reconhecimento do caráter  problemático de todo saber, da relativa propriedade de cada método e da falta de fundamentação última, definitiva, das teorias.
Por outro lado, não sendo o pesquisador social um puro sujeito de conhecimento, como não é também o cientista propriamente dito, ele pode modalizar, mais do que este, pela consciência de ser, acima de tudo, um intérprete, o índice pessoal do trabalho teórico que se chama estilo.
Mais adiante, citando exemplos, Nunes vai nos mostrar, mais exatamente, o que significa o que chama de estilo. Vou me alongar nessa parte do pensamento de Nunes porque acho que neste texto ele explica brilhantemente o que poderia vier a ser, segundo penso, uma estética cognitiva nas ciências do homem e da sociedade,.
Sobre a hermenêutica e sua relação entre a filosofia e a literatura ele nos diz :
Do alargamento do discurso cognoscitivo que se deve a esse referencial resultaram duas conseqüências correlatas: separando-se cada vez mais das ciências, a filosofia aproxima-se cada vez mais da literatura. Nas ontologias que derivam da diretiva fenomenológica, os limites entre literatura e a filosofia já não podem ser traçados com nitidez. Como nos mostram as correntes de inspiração sartreanas ou heideggerianas, o ingresso do discurso filosófico na “era do estilo” reflete-se no primato da tendência hermenêutica. A filosofia interpreta o mundo e interpreta-se a si mesmo. A “hermeneutização” ( Hermeuneutisierung) de tudo revela-nos também que a linguagem é a principal mediadora da referência à vida na filosofia. Tal mediação ainda mais estreita os laços entre o filósofo e o literário.
No trabalho filosófico, portando, a mobilização estética é relevante não só em decorrência da personalização do pensamento, mas também pelo fato de que em filosofia o pensamento delimita, como assinalou Wittgenstein, pelas formas de vida ( lebenform), que se traduzem em jogos de linguagem. No seu empenho de compreensão totalizadora, a obra filosófica emaranha-se nesse jogo.”( p. 94)
Nas ciências humanas :
A interferência do estilo como princípio de modalização estética e, portanto, da forma do discurso, das variações formais da escrita, estabelece o nível hermenêutico, interpretativo, do próprio conhecimento que o texto apresenta. Por força do estilo requerido pelo campo de experiência ao qual se aplicam conceitos teóricos sempre parciais e redutores nas ciências humanas, os textos podem mais do que o papel de simples veículadores de uma conhecimento já elaborado. Uma vez que a formação teórica é aqui completada pela interpretação, o texto que se individua como obra, produto do trabalho generalizado, também participa da gênese do objeto teórico”.
Nunes vai nos mostrar como o ensaio é o locus privilegiado da interpretação, onde “combinando a liberdade e a imaginação e a ordem dos conceitos, esse arrojo hermenêutico solicita a utilização convergente, interdisciplinar, das ciências sociais dispersas na forma individuada, estética, de um discurso favorável à hipótese fecunda e arriscada, às idéias prospectivas, às apreciações valorativas, à discussão de questões emergentes não confinadas a uma única disciplina e à soluções problemáticas.”
Em seguida, nesta perspectiva, os autores contemporâneos fundadores do conhecimento da sociedade brasileira: Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freire, Raizes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda e Formação Econômica do Brasil, de Caio Prado Junior. Depois detém no ensaio de Richard Morse,  O Espelho Próspero, que ele considera um brilhante estudo, paradigmático, diria, de como se trabalha com a multidisciplinariedade. Ou mais: como se constrói, na prática, uma estética cognitiva em ciências sociais, com tudo que ela deve à pratica da linguagem, com diz Nunes, sem os falsos dilemas que o positivismo nos impôs.




[1] PASSERON, Jean Claude. O Raciocínio Sociológico – Espaço não-popperiano do raciocínio natural. Editora Vozes, Petrópolis, 1985. p.12
[2] O texto completo é : “Contudo, uma certa esperança de um Newton nas ciências sociais continua sendo bastante comum, ainda que hoje, talvez, os que são cépticos a respeito de tal possibilidade sejam mais numerosos dos que ainda alimentam tal esperança. Mas aqueles que ainda esperam por um Newton, além de estarem esperando por um trem que não vai chegar, estão também na estação errada.” GIDDENS, Anthony. Regras do Método Sociológico, p. 13.
[3]  MENEZES, Eduardo Diatahay B. Texto II Rumo a uma estética cognitiva para a Sociologia, p. 9.

[4] Como nota Eduardo Diatahay no texto citado, “no campo das ciências humanas, as implicações desse dualismo atingiram até as metodológias. Pretendendo-se fiéis ao ideal científico, numerosos sociólogos firmaram-se na distinção entre suas sensações “subjetivas” e as características “objetivas” do seu estudo; aos seus olhos, os sentimentos, as interpretações e os pontos de vista pessoais da análise não deveriam contaminar a estrutura “externa” da ação social. Inversamente, porém,. outros sociólogos sustentaram que a empatia comanda o acesso à consciência. Para os positivistas, a sociologia deve imitar a ciência; segundo os românticos, ela deve ser uma arte mais que uma ciência. “ ( p. 11 do texto citado acima ).
[5] op. cit. p. 9
[6] Ver MENEZES, Eduardo Diathay B. de.  Ciência, Abutre com Asas de Triste Realidade, PULSIONAL, Centro de Psicanálise, São Paulo, Ano VIII, n. 72, abril de 1995, 0. 30-31.)
[7] Esse é o título do livro de CHALMERS, A Fabricação da Ciência, Editora UNESP, onde critica – sem negar – o discurso da ciência, fugindo tanto de sua glorificação ideológica, quanto de sua negação radical. 
[8] MENEZES, Eduardo Diathay B. Sobre a “Neutralidade das Ciências".  Revista de Ciências Sociais, vol. IX, n. s. 1. P. 16 e 17.
[9] Se assim for é impossível trabalhar com a idéia, mesmo na sua forma didática, proposta por MENEZES, em seu trabalho citado acima, quando propõe uma divisão interna e externa, onde no primeiro  põe a ciência entre parênteses e se realiza em nível de análise da lógica, da metodologia,  e uma análise externa que seria a leitura contextual, a leitura feita por meio da história e da sociologia. Essa opção, mesmo aceitando os seus limites e seus fins didáticos, nos mostra certos traços positivistas, onde se trabalha como paradigmas fixos, ou como diz o autor,  uma “língua protocolar com paradigmas estáveis”.
[10] Op. cit. p 87
[11] op. cit. p. 88
[12] São aquelas pesquisas excessivamente descritivas que fez com que Raymond Aron brincasse com uma única pergunta que esse tipo de pesquisa despertava : “Quando se acaba de ler isso tudo, a única pergunta que fica é : “E daí ?” ( citado por Passeron, op. cit. p. 89) 
[13] Ver MENEZES, Diathay. B. de . in “Novas Perspectivas da Ciência, p. 4)
[14] Ver MENEZES, Eduardo Diathay B. Ciência Abutre com Asas de Triste Realidade?" Pulsional. Centro de Psicanálise, São Paulo, Ano VIII, n. 72. abril. p. 28.
[15] Cito aqui uma conferência pronunciada por Arthur Ramos e editado num pequeno livro chamado Ciências Sociais e os Problemas de Após Guerra, Editado no Rio de Janeiro em 1944. Foi uma conferência lida no Salão de Conferências da Biblioteca do Ministério de Relações Exteriores, no dia 27 de abril de 1944. Coleção C.B.E, n. 13.
[16] Graciliano marca não só a literatura brasileira, mas a maneira do próprio homem conceber a sua realidade. “A sua fama é legítima – diz o saudoso Lívio Xavier -, de grande romancista, em uma literatura pobre, de um povo pobre, de um país pobre, porque, acima de tudo, a sua arte é o espelho dessa realidade, sentida por um homem desencantado, mas fiel ao seu coração." 
[17] O grande mérito de Euclides da Cunha, no momento em que não existia sociologia no Brasil, foi ter  procurado um conhecimento vivo e direto da realidade brasileira, “matéria para a criação ou expressão literária. Estimulou assim o desenvolvimento de nosso País, de uma literatura firmada na observação, no estudo, na análise dos fatos caracteristicamente nacionais: os sertanejos e amazônicos, principalmente.”(...) “Dessa literatura se pode dizer que vem sendo ecológica ou sociológica nas suas tendências; e até nutrida da ciência ou da técnica do engenheiro de campo, que nunca deixou de ser arte; não deixou de modo algum de ser literatura(...) Ele foi um artista.. Foi um poeta.” ( Ver “Euclides da Cunha, Revelador da Realidade Brasileira, Gilberto Freyre. Obras Completas. Volume I)

[19] IANNI, Octávio.  Razão e Imaginação, in Enigmas da Modernidade-Mundo. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro 2000, p. . 169-174.
[20] GEERTZ, Clifford. O Saber Local – Novos Ensaios em Antropologia Interpretativa. Editora Vozes, p. 116-117
[21] Para Gramsci, o bom senso é o núcleo sadio do senso comum. Chama de ideologia “o significado mais alto de uma concepção de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade econômica, em todas as manifestações de vidas individuais e coletivas”.
[22] Ver, NENES, Benedito. Pluralismo e Teoria Social Do Livro A Interpretação. Vários autores. Imago Editora Editora.

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