terça-feira, 14 de agosto de 2012

O PASSADO E OS NOVOS DESAFIOS NA LUTA UNIVERSITÁRIA ( NOTAS PARA UM DEBATE NECESSÁRIO)


                                                                                         Benedito Carvalho Filho
Na tarde do dia 25 de abril de 2012, cerca de duzentos professores, alunos e técnicos da Universidade Federal da UFAM, segundo a listagem da ADUA (Associação dos Docentes da Universidade do Amazonas), se reuniram no hall do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL).
 Foi uma tarde de mobilização e acalorados debates, onde se discutiu não só encaminhamentos da pauta de reivindicação dos professores e funcionários, mas se fez críticas à política educacional do governo, a privatização da universidade pública, o arrocho salarial e o descaso do governo para com a universidade.
O que chamou atenção na assembléia, que alguns consideraram “histórica” e “um marco nesse reinício de luta,” foi não só os encaminhamentos para um possível indicativo de greve, mas as análises de conjuntura (que na verdade não ocorreram).
Era visível, também a presença de pessoas de várias gerações, desde aqueles (poucos) com o longo passado no movimento sindical e na Universidade aos mais novos, os que “estão chegando”; a geração de jovens estudantes e professores que escutaram os discursos e certamente saíram com muitas interrogações.
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O que pensam os estudantes e os novos professores, que não conheceram e nem vivenciaram a histórica luta que vem se desenvolvendo antes mesmo da implantação das políticas neoliberais no universo universitário?
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Não pude deixar de pensar com os meus botões: o que pensam os estudantes e os novos professores, que não conheceram e nem vivenciaram a histórica luta que vem se desenvolvendo antes mesmo da implantação das políticas neoliberais no universo universitário?
 Quais os projetos em disputa na sociedade e na educação brasileira antes (e depois) do Golpe Militar de 1964, passando pela chamada “abertura lenta, gradual e segura” que culminou nas eleições diretas de Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula e agora Dilma Roussef?
Quais foram as semelhanças e diferenças das conjunturas nos diversos governos que exerceram poder, implementando reformas e políticas educacionais que emergiram desses diversos contextos?
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Não conseguiremos compreender o que se passou (e se passa) ao nosso redor se não olharmos mais atentamente para esse passado da história desse país.
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Compreender as conjunturas (política, social e econômica) pelas quais atravessamos é uma tarefa complicada, porque a realidade é dinâmica, vai adquirindo novas facetas.
 Os governos mudaram, as lutas adquiriram novos contornos, surgiram novos atores, e passa a ser complicado defender palavras de ordem sem analisar os vários momentos, os desdobramentos conjunturais (nacional e internacional), sob pena de nos deslocarmos da realidade, mesmo quando os discursos parecem eloqüentes e cheios de apelos.
Neste artigo do jornal Catarse, destinado aos alunos e alunas da UFAM, a pretensão é levantar dados sobre as diversas conjunturas pelas quais atravessou o país, desde o Golpe Militar de 1964, passando pelo período de abertura política, pois não conseguiremos compreender o que se passou (e se passa) ao nosso redor se não olharmos mais atentamente para esse passado da história desse país.
O objetivo com deste artigo é situar o leitor para que aprofunde a análise com base em informações, discussões e debates internos. Só assim poderemos qualificar o debate e politizar questões tão fundamentais para o encaminhamento de nossas lutas no interior da universidade (hoje com uma massa com cerca de 30 mil pessoas, entre professores, alunos e técnicos administrativos) e na sociedade em que vivemos atualmente.
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A comunidade acadêmica, mesmo sem muitas reflexões, percebe que está em curso um processo que vem de longas datas: a desmontagem do sistema público de ensino superior em proporções e profundidade inimagináveis.
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É importante chamar a atenção, também, que essa sintética análise que aqui fazemos não pretende esgotar o assunto, nem tem a pretensão de ser a única e verdadeira. Longe disso. Pretende ser somente uma das referências para alimentar o tão necessário debate interno, com todas as contradições, divergências e pontos de vista diante de questões polêmicas e que certamente merecem várias leituras.
A sociedade e universidade e a cultura que respiramos
Duas perguntas importantes devem ser respondidas: 1) Quais são as transformações têm passado o país e a universidade brasileira ao longo de nessa história, considerada a partir do regime militar? 2) Quais são as mudanças que ocorreram na educação brasileira e como elas vêm se refletindo na sociedade?
Não é preciso muitas análises e informações para perceber que estamos nesse momento atravessando dramáticos problemas. Todos, de uma forma ou de outra, estão sendo afetados pelas transformações do presente, permeado de dúvidas e incertezas quanto ao nosso futuro.
A universidade, como não poderia deixar de ser, vive (e viveu) intensamente esses problemas e isso afeta o cotidiano na sala de aula, a cultura que respiramos, o sentido de nossa existência, porque, afinal de contas, é nesse espaço que convivemos diariamente, nos relacionamos com nossos colegas, que sentem e pensam o mundo de forma diferente, vivendo as suas contradições. 
A comunidade acadêmica, mesmo sem muitas reflexões, percebe que está em curso um processo que vem de longas datas: a desmontagem do sistema público de ensino superior em proporções e profundidade inimagináveis, tanto para os jovens que estão chegando hoje na universidade, como os que estão aqui dentro há muitos anos. Isso nos deixa perplexo, ou indiferente, e, não poucas vezes, acomodado e apático.
Mas é importante lembrar: o que está em discussão hoje não é somente a degradação dos níveis salariais, o arrocho, como foi revelado na assembléia citada realizada em abril, mas o que os governos, desde o tempo da ditadura, passando pelos governos neoliberais, vêm fazendo com a universidade pública brasileira. Trata-se, na verdade, da desmontagem progressiva do atual sistema de ensino superior.

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