terça-feira, 14 de agosto de 2012

OS DELIRIOS DE UM AUTOINTITULADO “BARÃO DE CAPANEMA”


                                                                    Benedito Carvalho Filho

O velho Dr. Freud na antiga Viena analisou um caso intrigante de um famoso magistrado alemão chamado Daniel Paul Schreber (1911- 1842) nascido em Leipzig, Alemanha, e se interessou pelas Memórias que ele escreveu apenas em 1910, tendo publicado suas Notas psicanalíticas  em 1911, pouco tempo depois de sua morte.
O que ocorreu na vida desse famoso magistrado para que escrevesse essas longas memórias? Lembrei desse caso ao ler a Carta Aberta que certo juiz paraense escreveu para o jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto. Evidentemente que a narrativa do magistrado alemão era mais sofisticada e cheia de imaginação, o que fez com o criador da psicanálise se debruçasse pelo farto material clínico que ele mesmo forneceu.
 É verdade que não se considerava nenhum duque, ou coisa do gênero, mas não deixou de revelar certa genialidade na descrição, o que nos faz lembrar aquela famosa frase proferida pelo famoso dramaturgo, William Shakespeare (1564-1616), onde dizia mais ou menos isso: é preciso enlouquecer, mas com método.
O bárbaro juiz, que tem orgasmos com seus tesouros emocionais ao ser assim denominado, parece ter uma apreciação de si visivelmente onipotente, onde ressalta o seu evidente narcisismo, mesmo que imagine que está fazendo gozação por parecer ser tão irreverente (e, quem sabe, pós-moderno?). Não aquela irreverência criadora dos artistas e dos velhos anarquistas. Ele parece zombar de si com sua pseudo iconoclastia e parece se dirigir à uma platéia que o aplaude e certamente o considera um gênio, o Duque de Capanema, o homem mais inteligente do mundo de todos os tempos, reconhecido pela imaginária American Society for Inteligence Measure. (As vezes a ironia dizem muita coisa, como no chiste).
Ele faz uma ironia, visando desconcertar seu oponente, e, na sua arrogância embaralha a discussão e nega a realidade e as conseqüências de seus atos anteriores. Não foi sem razão que um famoso psicanalista inglês W.R. Bion em  trabalho Sobre a Arrogância nos adverte que ela é própria de indivíduos que estão no poder. Eles desenvolvem uma forte compulsão ilusório-imaginativa que dificulta a captação da realidade. Isso, como podemos observar, ocorre com o médico com o bisturi na mão, o juiz colocado entre o justo, o injusto e o legal e o político que deseja prestígio e fama.  
Quem não se recorda da arrogância destrutiva de um Hitler?  Portanto, a arrogância combinada com o carisma numa personalidade pode desencadear a idéia de estar acima do bem e do mal e de se confundir com o Estado ou organização sociopolítica (não foi assim no fascismo?)
Ao ler o que o pseudo e autoimaginado Duque de Capanema escreveu cheguei a me perguntar? Para quem ele está escrevendo quando posta suas mensagens no Facebook? Para seu interlocutor, ou para o séquito de amigos e amigas que lhe admira o acompanha em seu fair-play pelas noites paraenses?
Não podemos deixar de nos impressionar com seus seguidores e admiradores. Será que nessa sociedade do espetáculo em que vivemos não se cria esses personagens narcísicos, como esse juiz? Será que esse modelo espetacularizado e glamourizado não é incentivado e demandando por uma subjetividade social vazia e oca como essa que temos diante de nós? 
A sedução e o poder atraí abelhas, pessoas carismáticas, sedutoras, facilmente confundindo arrogância com brilho intelectual, densidade de saber com conhecimento operatório. Isso porque o mercado capitalista contemporâneo necessita para a sua expansão que o narcisismo individual e grupal seja estimulado, elevando ao máximo a arrogância individualista, o que permite à publicidade maior penetração na mentalidade descomprometida com relação os valores éticos tão caros ao iluminismo, pois, no fundo estão buscando o desejo hedonista, sem compromissos coletivos. Nesta perspectiva, a verdade se esfarela, vira, para eles, uma coisa de otário, onde o importante é levar vantagem em tudo. É o império do vale tudo, do conchavo, da ironia cínica, do deboche, se mostra e se revela com toda a sua violência, passando a ser o comportamento aceitável por certos setores da sociedade, principalmente aquela vazia de sentido. 

Não é somente nos antros do poder judiciário que proliferam esses comportamento. Nas universidades e em muitas instituições, o caráter narcisista é atualmente estimulado  para que indivíduos delinquentes desenvolvam ao máximo seu potencial de “levar vantagem em tudo”, mesmo que seja passando por cima das regras que devem reger o comportamento ético das pessoas, muitas vezes prejudicadas.
As instituições, nessa perspectiva se transformam na manifestação mais pura daquilo que Habermas chamou de racionalidade tecnológica, ou tecnocrática, onde impera o narcisismo, atingido políticos, magistrados, professores, administradores e tantos outros personagens do mundo burocrático, gerando mal-estar, bullyngs e tantas outras formas de manipulações.
O Duque de Capanema não está só. Ele sabe disso.



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