terça-feira, 14 de agosto de 2012

Classe média também mora em favelas de Manaus, diz pesquisador

O bairro Cidade de Deus, em Manaus, é a décima maior favela do Brasil. Lá, há 10,6 mil domicílios, mas falta infraestrutura

MANAUS – A sétima maior cidade do País, Manaus, abriga a décima favela mais populosa do Brasil. Nesse mesmo “ranking”, aglomerados em cidades do Pará e Maranhão aparecem em posições ainda mais elevadas. O caso amazonense, no entanto, difere das outras pelo fator econômico: apesar de apresentarem baixos índices de desenvolvimento, essas mesmas áreas são habitadas até mesmo por pessoas de classe média, que “fogem” dos altos preços de áreas mais centralizadas.
Os números fazem parte de levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (21). A favela manauara citada entre as dez maiores é Cidade do Deus, na zona Leste. No bairro, há cerca de 10,6 mil domicílios ocupados. Residências onde vive uma fração das centenas de milhares de pessoas que habitam em uma das 121 favelas amazonenses – 41,3 % delas concentrados na capital do Estado.
Dos 461,5 mil domicílios de Manaus, mais de 70 mil encontram-se na categoria subnormal. Os 58,7% remanescentes são distribuídos entre os municípios do interior do Estado.
Segundo especialistas, as favelas manauaras fogem do padrão brasileiro. O geógrafo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), Reinaldo Correa, falou ao portalamazonia.com sobre as características desses aglomerados. De acordo com ele, a heterogeneidade da população das favelas é o diferencial amazonense. “Você pode encontrar até pessoas de classe média nessas áreas. Devido ao baixo custo do metro quadrado, pessoas de razoável poder aquisitivo compram terrenos nas áreas afastadas”, contou.
O pesquisador destacou dois tipos de favelas em Manaus: a precária e a “cidade dentro da cidade”. A primeira é caracterizada por falta de serviços dos tipos públicos, como energia elétrica, postos de saúde, escolas públicas e privados e postos comerciais , além de apresentar uma infraestrutura “autoconstruída”, com falhas de planejamento de execução.
Já a chamada “cidade dentro da cidade” propicia todos os tipos de serviços aos moradores sem a necessidade de gasto com transporte para outras áreas – apontada pelo pesquisador como uma das maiores despesas do trabalhador. Dados do mesmo levantamento mostram que 34% dessas comunidades têm rendimento mensal na faixa entre meio salário mínimo e um salário mínimo. Apenas 4,6% ganham mais de dois R$ 1.090,00.
Correa afirmou que a exclusão destes moradores causa implicações na economia de toda a cidade. “A população dessas áreas é um público consumidor em potencial, que restringe suas atividades econômicas dentro das favelas. Há também a questão do preconceito contra os moradores. Sei de pessoas que perderam oportunidades de emprego por serem discriminados”, contou.
Meio ambiente
A falta de planejamento – caracteristicas de aglomerados como esses, resultam também em prejuízo ao meio ambiente. “Essas áreas não têm um uma infraestrutura de circulação de banheiros, então improvisam. As tubulações improvisadas danificam em pouco tempo, o que resulta em mais gastos para os consertos”, exemplificou o especialista.
O armazenamento de lixo é outra característica das favelas de Manaus. Correa destacou que os moradores são os menores produtores de detritos, já que tendem a consumir pouco. “Os serviços de coleta não chegam à maioria das favelas, o que resulta no acúmulo desse lixo nas ruas, por exemplo”.
Brasil
Além do Amazonas, outros dois Estados da Amazônia encontram-se na lista: Maranhão e Pará. O bairro maranhense de Coroadinho ocupou a quinta posição, com cerca de 14,3 mil habitações ocupadas. A Amazônia aparece novamente no sétimo lugar, com o bairro paraense Baixada da Estrada Nova Jurunas. Segundo o IBGE, o local contabiliza 12,7 mil residências.
Nos dez primeiros lugares, a região Sudeste lidera o número de maiores favelas. Os bairros da Rocinha (23,3 mil) e do Rio das Pedras (18,7 mil) ocupam a primeira e a segunda posições, respectivamente. O Nordeste aparece duas vezes, com o pernambucano Casa Amarela (15,2 mil) na quarta posição e o cearense Pirambú (11,3 mil).

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