segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ALUNOS, DOCES BÁRBAROS OU ANJOS CAÍDOS

Benedito Carvalho Filho
Março/2011
Foto: Estudantes UFAM/Portal Amazônia
O artigo sobre a saúde mental dos professores tem uma relação muito direta com algumas  reflexões muito gerais sobre o que se passa aqui na UFAM com os nossos alunos e que mereceria uma pesquisa mais aprofundada.
 Afinal quem somos nós e quem são os nossos alunos? Em que tempo eles viveram (e vivem) e em que tempo vivemos nós? Como enfrentam a vida nesses tempos de desmanche, de falta de perspectivas e incertezas?
A resposta a essas perguntas é fundamental, para compreendermos o que está se passando no presente, pois, nós, professores, viemos de uma geração que viveu outros momentos históricos, com todas suas utopias e sonhos. Por isso, temos dificuldades em entendê-los, nesses tempos chamados de pós-moderno.
Não são poucos os professores que lecionam em instituições públicas e privadas, algumas vezes ministrando aulas em salas super lotadas. No final do dia, estão estressados, abatidos lentamente por um cansaço que vem aos poucos abalando a nossa saúde física e mental e a nossa autoestima, como vimos no artigo anterior.
No final a gente se pergunta se valeu a pena ter feito mestrado, doutorado,  enfrentando concursos estafantes que todos nós conhecemos.
Pretendemos, no entanto, levantar algumas questões pontuais, para serem discutidas e aprofundadas.

AS QUEIXAS MAIS FREQUENTES

As reclamações são muitas: alunos e alunas que não se concentram nas aulas, lêem pouco, e quando lêem são fotocópias de textos que, logo depois são guardados em casa, muitas vezes sem a referência dos livros fotocopiados.
Desmotivados, prestam mais atenção nos seus computadores e celulares, transformando a sala de aula num ruído permanente, onde os pequenos grupos conversam na informalidade, distantes e desatentos, como se o professor estivesse ausente.
Estar na sala de aula, ao invés de ser um momento de aprendizado, de troca e diálogo e reflexão crítica, transforma-se numa agitação frenética, num entra e sai permanente, como se eles (e elas) não suportassem meia hora de atenção concentrada.
Às vezes o professor flexibiliza a presença, permitindo que o aluno opte por estar na sala.  Muitos, embora não demonstrando o mínimo interesse na aula, não se retiram , como se estivessem na escola de primeiro e segundo grau, o que revela a pouca consciência de que estão numa universidade e têm que adquirir o mínimo de autonomia para administrar seus conhecimentos.
A velha escola, com suas formas de controle estão internalizadas no inconsciente dos alunos e isso obriga o professor a tomar posição duras e, muitas vezes, autoritária, tornando a relação tensa, tanto para os alunos (que muitas vezes desejam o autoritarismo) como para os professores, que ganham com isso mais estresse e desmotivação para dar aula.
Some-se ao problema da indisciplina as questões relacionadas às habilidades mínimas requeridas pelo desempenho acadêmico e teremos mais um ingrediente explosivo dentro do ambiente acadêmico.
Uma grande parcela de nossos alunos tem pouca habilidade para compreender e interpretar um texto de dez páginas sem erros gramaticais.  
O que fazer com esses alunos que chegam à universidade sem a mínima habilitação? Que não lêem? Excluí-los da possibilidade de seguir a vida acadêmica? Reforçar a necessidade de melhoria do ensino fundamental?
Já é sabido que aumentou o número de pessoas nas escolas brasileiras, mas tem havido uma impressionante baixa de qualidade de ensino e aprendizagem.

ALÉM DOS PROBLEMAS PEDAGÓGICOS
  
Discutir essas questões que apresentamos acima é importante, mas não acho que elas passem somente pelos aspectos pedagógicos. A questão é mais complexa e exige um processo de discussão que não passa somente pela Universidade, mas diz respeito às grandes transformações que estamos vivendo na sociedade de uma maneira em geral.
 Quem são, de fato, os alunos e alunas que encontramos diante de nós? O que pensam sobre o mundo em que vivem, a escola, a vida e as perspectivas do futuro?
Não estará havendo um desencontro na comunicação, na medida em que nós, educadores, nos encontramos aferrados rigidamente às normas e paradigmas que pouco têm a ver com a subjetividade do mundo contemporâneo, nessa época do capitalismo tardio?
O sociólogo Pedro Demo, em uma entrevista, toca nesta delicada questão e nos faz pensar:

“Somos professores, damos aula, mas é preciso fazer uma crítica da aula que é meramente expositiva, que nada mais é que um café velho passado em frente (... ) A aula – continua o sociólogo – precisa se colocada no seu devido lugar. É um instrumento de organização, introdução e arrumação das coisas. Deveria ser um elementos didático supletivo, não o centro da aprendizagem. O aluno só aprende se ler, pesquisar, elaborar.”

 E, claro, isso só poderá ocorrer se tivermos boas bibliotecas, atualizadas e constantemente à disposição da pesquisa. Diria mais: se os alunos estiverem apaixonados pelos temas que escolhem como objeto de estudo.
O aulismo do aluno desmotivado e sem as condições objetivas para adquirir conhecimentos torna-se um estorvo, um autoengano, onde o professor pensa que ensina e o aluno faz de conta que aprende.
Tudo tem a ver, também, com o jeito como ele vê o mundo e, consequentemente, como se forma a sua autonomia, à medida que mexe com o conhecimento. Como diz Pedro Demo,

“...o Primeiro Mundo pesquisa, o Terceiro Mundo dá aula. Para criar mentes autônomas é preciso aprender a pensar. Por isso é inacreditável que, depois de Piaget, a escola ainda prossiga meramente dando aulas. O professor está cuidando mais do currículo do que da aprendizagem do aluno, porque ele raramente parte da necessidade do aluno. Em vez de partir do aluno, ele despeja o currículo. Isto é reflexo de uma escola que se organizou unicamente para dar aulas.”

INDISCIPLINA OU ALUNOS MAL TRABALHADOS?

Com relação às questões da indisciplina a que nos referimos anteriormente, as observações de Demo são instigantes. Diz ele:

“O problema da disciplina é bem diferente, O mundo todo está debatendo a indisciplina. Mesmo não sendo um especialista no assunto, eu diria que parte do problema vem do nosso desconhecimento de como funciona a aprendizagem na cabeça de uma criança. O professor, no fundo, fala com um aluno que não conhece. Quer um exemplo? Uma criança de 7 anos tem pouco poder de concentração de 5 a 10 minutos, no máximo; além disso, ela se dispersa. Mas o professor dá aula expositiva. Se ele soubesse dessa limitação física provavelmente perceberia que mudar a aula, talvez mostrando imagem para remotivar a aula.”

As observações do sociólogo cabem como uma luva para nós. Por que muitos de nossos alunos, depois de uma hora de aula, não se ligam no que estamos falando?
Tenho observado que, muitas vezes, diante de uma reflexão, um questionamento, muitos se calam num mutismo angustiante. Medo de se expor e ser censurado, de “falar besteira”, como eles dizem.
É preciso pensar no significado desse silêncio e ver se ele não se assemelha ao silêncio das instituições prisionais e as demais instituições totais.
Não estarão de saco cheio do nosso “café requentado” que passamos burocraticamente para eles? Foucault nos ensinava que o silêncio é uma forma de resistência.
A prática educativa, em qualquer circunstância, não está desligada do conjunto das contradições vividas em nossa sociedade e nesse mundo globalizado. Essas contradições afetam a nossa maneira de ver o mundo, a nossa subjetividade e tudo mais. Provoca, também, tensões e torna retrógrado aquilo que era considerado um valor até pouco tempo atrás.
Se o que tentamos comunicar não é mais relevante para os alunos, está na hora de sabermos as razões, se isso que tanto prezamos tem sentido para eles, ao invés de atribuir toda a culpa a eles.
Esse desencontro entre educadores e educandos faz do ensino um acontecimento angustiante. A tentação é fazê-lo obedecer, na base do vigiar e punir, que são os velhos meios autoritários que conhecemos e experimentamos no passado. Nós, da geração 60-70, muitos exercendo a profissão de professores, sabem o quando pagaram pelo autoritarismo. E, o mais impressionante, é como tentam reproduzir esse autoritarismo.
Se ainda acreditamos no diálogo, na capacidade de lidar com o diferente, em buscar o entendimento, que não seja através da imposição, da violência (real e simbólica), pois quando ela passa a reinar não é mais possível o entendimento pela palavra e sim pela força, como dizia a filósofa alemã Hannah Arendt.
Cinco aspectos ressaltados no artigo anterior fornecem alguma pista para pensar a relação professor-aluno, no mundo contemporâneo:

 1. A transformação do papel do professor e dos agentes tradicionais de integração social; 2. As crescentes contradições no papel do professor; 3. As mudanças nas atitudes da sociedade em torno do professor; 4. A deterioração da imagem do professor e das demais autoridades; 5. A incerteza acerca dos objetivos do sistema educacional e da longevidade ou utilidade do conhecimento.
Se formos refletir sobre cada um desses aspectos, logo perceberemos que eles são sintomas de fenômenos que abrangem a sociedade contemporânea que vêm modificando radicalmente as formas de comportamento.
As contradições sobre o papel do professor têm íntima relação com a progressiva crise da autoridade.
Os jovens vivem num mundo onde a autoridade, seja a paterna, seja de outras instituições do Estado, se encontram numa profunda crise.. Se, no passado, o pai, o professor, o padre e o militar serviam como referente, como as figuras nas quais os jovens se identificavam, hoje, esses mesmos, jovens perderam seus pontos de referência e acabam se identificando com ídolos efêmeros, como cantores, “tribos” e outras referências da chamada sociedade do espetáculo.
Antigamente os professores eram vistos como os mestres, detentores de um saber, hoje são vistos como uns fracassados, que recebem salários irrisórios. Perguntem para seus alunos quantos gostariam de seguir a carreira do magistério.
 Nas instituições de ensino isso tem fortes implicações quanto ao papel do professor e da professora, gerando um profundo mal-estar nesses ambientes, pois a sociedade onde estes jovens vivem é radicalmente diferente dos anos passados.
Tenho observado que muitos alunos e alunas, ao contrário das gerações dos anos 60, reivindicam mais autoridade, e, por que não dizer: mais autoritarismo. Por que será?
Outro aspecto:
O individualismo, a fragmentação, a cultura do efêmero alimenta a cultura do narcisismo, do consumismo, o hedonismo, onde o importante é levar vantagem, de preferência o mais rápido possível. É nesse mundo que trafegam os jovens universitários, sempre de olho no chamado mercado, que os levam a se transformar, também, em mercadoria. É só ler o livro do Sennet chamado Corrosão do Caráter para entender esse fenômeno.
Experimente perguntar para um grupo de alunos por que estão fazendo um curso universitário. Para a maioria, o estar na universidade é estar focado no projeto individualista: entrar no mercado de trabalho, se dar bem, poder comprar os objetos de consumo, ter uma casa, de preferência sem muito esforço e desde que seja rápido, encurtando caminho, como dizia um jovem (o que significaria encurtar caminho?). É raro ouvir um desejo mais altruísta e menos pragmatista, como contribuir para a melhoria da sociedade, valorizar a solidariedade e o bem- estar coletivo. O coletivo que se lixe!
Esses valores são  deles ou foram internalizados pelo modelo de sociedade em que todos nós vivemos? 

UM OLHAR DE RELANCE

Desde o mês de agosto de 2010 ministrei aulas para três turmas. Duas para o Curso de Serviço Social e uma para uma turma do Curso de Relações Públicas
Boa parte dos meus alunos e alunas daqui da UFAM estava na faixa etária de 17 a 21 anos e muitos eram oriundos de Manaus, assim como dos municípios vizinhos e até mesmo de outros Estados e países, como o Peru e a Venezuela. Percebi que boa parte desses alunos e alunas não trabalha e alguns fazem outra faculdade, normalmente as particulares.
As atividades mais freqüentes dos jovens: ouvir música, ver televisão e estar com os amigos e se divertir com o que a cidade oferece. Isso quando têm condições. Poucos têm o hábito de ler livros ou jornais. As informações são obtidas por meio da televisão e da Internet. Dificilmente encontramos pessoas que lêem jornais de outros Estados e o nível de conhecimento sobre o que se passa na Amazônia é muito superficial.
É muito grande o número de alunos que nunca saiu do Estado do Amazonas. Alguns conhecem os Estados vizinhos. Alguns vieram  de outras regiões do país, atraídos pelos empregos na Zona Franca.
Diversas vezes perguntei sobre o que achavam da realidade social, econômica e política do Brasil. O segundo semestre foi marcado pelas eleições, mas mostraram-se pouco preocupados em discutir o que estava acontecendo no mundo político.
Quando interrogava sobre os principais problemas vividos pelos jovens de hoje, apontavam que um dos problemas sérios do país é a violência, seguido da corrupção e do desemprego. Vários alunos foram assaltados nas paradas de ônibus ; por sinal onde os ônibus são precários, pois estão sempre lotados.

Uma das grandes angústias dessa geração é a falta de perspectivas profissionais. O futuro lhe parece incerto, o que gera insegurança, pois percebe que hoje nem sempre possuir um título universitário é a garantia de um emprego estável e seguro.

Percebi que muitos que estão fazendo o curso não sabem se é aquilo que desejavam fazer. Pretendem fazer outro vestibular, para outra área. Ou seja, estavam fazendo o curso para ter alguma ocupação e estudar para outro concurso. O número dos indecisos, os que não sabem o que querem, é muito elevado, como pude perceber nas conversas. Muitos se queixam do desânimo e da depressão, assim como o abandono dos pais.
O desconhecimento da história de seu próprio país é uma realidade entre os alunos das turmas que lecionei. Às vezes, eu narrava fatos que, para mim, eram familiares e que eles deveriam ter estudado no segundo grau. Posso afirmar que uma parte dessa geração que estava na sala de aula é o que eu poderia denominar de “Geração Fernando Henrique”, nos seus 9 anos de mandatos. Eram ainda crianças e adolescentes e não tinham memória do passado. Não sabiam o que tinha sido a Ditadura Militar de 64, que completa 26 anos.
A sensação que dá é que o passado foi deletado, ou ignorado, ou nunca contado, pois o que sabem é muito fragmentado e superficial. Como é possível construir uma identidade política e social se desconhecem os acontecimentos que até hoje marcam a sociedade brasileira?
 Eu estava diante de jovens já distantes dos chamados carapintados, os que saíram às ruas de várias cidades para protestar contra o Governo Collor.
Como sabemos, a geração FHC foi marcada pelo desmantelamento do Estado, acelerando o neoliberalismo no país. Os pais desses jovens, como pude perceber nas conversas, eram de classe média, funcionários públicos e servidores no comércio e sentiram os efeitos dessa era, pois muitos ficaram desempregados e tiveram que buscar novas alternativas de sobrevivência. Portanto, nasceram e cresceram numa era de grandes transformações estruturais na sociedade mundial e no seu próprio país. Não foram poucos os que passaram pelo desemprego, com grandes dificuldades para conseguir se reempregar.
Percebi que os jovens que estavam diante de mim não são motivados para aderir a grandes causas, na vida política e na luta pela cidadania.
Na vida universitária, onde convivem, poucos são aqueles que se empenham numa mobilização. Gostam, dentro de seus limites financeiros, de curtir a vida, como dizem. Sair com seus amigos e amigas para beber, ver televisão, ver filmes e, de vez em quando, ir ao cinema ou shoppings. A participação na vida cultural da cidade é muito reduzida, mesmo porque as atividades quase não existem.

“Não estamos presos a dogmas”, como afirmou uma aluna, mas não são pouco os que freqüentam igrejas de vários credos. Não gosto que ninguém faça a minha cabeça. Pego uma idéia dali, outra daqui, de um autor e de outro e construo a minha maneira de pensar – disse uma aluna.

Poucos se referiram ao consumo de drogas. Mas sabe-se que  alguns alunos consomem drogas e isso já foi motivo de batidas policiais aqui na Universidade.

SOZINHOS, JUNTOS – UMA LOUCURA MODERNA

Quem passa algumas horas no Restaurante Central da UFAM não pode deixar de observar o número de rapazes e moças manuseando seus laptops. Também não deixa de se perguntar: por onde estes jovens navegam? Conversam no MSN? Pesquisam o Google para fazer seus trabalhos acadêmicos? Isso mereceria uma observação mais acurada.
A jornalista Tatiana Chiari parece ter razão, quando afirma que a globalização espalha a cultura jovem com mais velocidade.
Numa matéria publicada pela revista Carta Capital, de 2 de fevereiro de 2011, cujo título era Os cibercéticos estão na moda, ouviu a socióloga Sherry Turke, professora do MIT, e autora do livro Alone Together (Sozinhos Juntos). Nesse livro, que está fazendo sucesso nos Estados Unidos e brevemente será lançado no Reino Unido, ela diz que as mensagens instantâneas via Twitter e Facebook pode ser considerada uma loucura moderna.
Ela disse que esteve em enterros em que as pessoas verificavam seus iPhones e ironizou: cada um tem sua própria maneira de dizer adeus.
A tese dela é simples e nos faz lembrar o que acontece no restaurante da Universidade Federal do Amazonas:

A tecnologia ameaça dominar nossa vida e nos tornar menos humanos. Sob a ilusão de permitir uma melhor comunicação, na verdade nos isola das verdadeiras interações humanas, em uma ciber-realidade que é uma pobre imitação da vida real.

Outros estudiosos, como Nicholas Carr, que tem um livro best seller nos Estados Unidos, chamado The Shallows (Águas rasas ou baixios), disseram que o uso da Internet estaria  modificando nosso modo de pensar, para nos tornar menos capazes de digerir quantidades de informações grandes e complexas. Num outro livro que se intitula O Google está nos tornando idiotas? Ele confirma essa hipótese.
Em outra linha de pensamento de ciberceticismo (The Net Delusion) – A Ilusão da Rede, de Evgeny Morozov, o autor afirma que a mídia social produziu uma geração de ativistas frouxos. Ela tornou as pessoas preguiçosas e consagrou a ilusão de que clicar com o mouse é uma forma de ativismo equivalente às doações em dinheiro e tempo no mundo real.
O filme A Rede Social é um ataque ligeiramente velado à geração da mídia social, sugerindo que o Facebook foi criado por pessoas que não conseguiram se encaixar no mundo real.
O título do livro da autora que citamos aqui é perfeito para caracterizar o que vemos nos restaurantes e salas de aula: Sozinhos Juntos. Sozinhos, porque que estamos desaprendendo a interagir, pois trafegamos por espaços imaginários, criamos as nossas fantasias, enquanto as incansáveis abelhas rondam nossos refrigerantes no restaurante. Mas o olho está na tela do computador e o fone na orelha, alheios ao que se passa ao redor.
A idiotização é outra realidade, como reconhece uma professora com longa experiência no magistério, quando diz:

Os alunos estão fazendo os seus trabalhos, suas monografias só consultando o Google. Uma pesquisa sobre o Adorno? Ele ou ela vão lá e copiam, dão uma forma, encadernam colocam seus nomes na capa e entregam para o professor sem nunca terem pegado alguma obra do autor, sem ter lido ao menos um livro.

Estamos diante de uma geração zapping, ou seja, aquela que vive mudando de canal o tempo todo. Isso com a televisão, com o computador e i Phone. Outros chamam de geração Delyvery, querem tudo na mão, de preferência bem mastigadinho
Como disse um jovem aqui da UFAM:
- Não consigo fazer uma coisa de cada vez. A gente vai abrindo nova janela sem fechar outras.

Estamos rodeados por uma bela floresta. Mas estamos sozinhos porque temos medo de interagir com as pessoas ao nosso lado. Mas, mesmo nesse ambiente sombrio e paranóico, consigo me comover com alguns simples gestos de carinho e amor.

Num dos corredores, um pouco antes de chegar ao restaurante, observo que algumas almas bondosas e amigas dos animais têm o trabalho cotidiano de encher porções de pequenas panelas e diariamente servem almoço para os pacientes felinos. É como estivessem dizendo para nós: não interagimos com vocês, mas temos o prazer de alimentar esses frágeis animais que nos procuram. Vocês (gatos) não estão sozinhos, nós interagimos com vocês. E os bichinhos agradecem com um simples miau.
Me deixam sensibilizado, particularmente, dois cães que têm amarrados nos seus pescoços coleiras onde está escrito: adotados pela UFAM. Um sempre dorme relaxado na porta do pavilhão do ICHL, certamente garantida pelas almas caridosas. O mais novo parece saber o lugar onde lhe dão o rango: na porta da secretaria da Faculdade de Educação, onde disputa o espaço com os gatos, sempre em grande número.
Talvez um dos únicos gestos que demonstram valores como cuidados, solidariedade e compaixão sejam com essas duas espécies de animais: os gatos e os cães. Entre nós, cada um que cuide si que é a lei do murici
Bem vindo ao deserto do real, como diria Slavo Zyzec.
Mas entre cães, gatos, alunos e professores temos muito a dizer. Que tal adotarmos alguns alunos. Sem a coleira da UFAM, evidentemente. Uma catarse e tanto.

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