sábado, 25 de agosto de 2012

AMAZÔNIA, ENTRE A TRADIÇÃO E A MODERNIDADE

                   Benedito Jose de Carvalho Filho,
                        Doutor em Sociologia
 

Tradição e Modernidade é um dos temas centrais no campo das Ciênciais Sociais latino-americana. Também em outros campos do conhecimento, como na literatura e nas artes em geral, assim como na filosofia.
Raciocinamos, aliás, mais do que imaginamos com essas duas polaridades, aparentemente dicotômicas. Tradicional é sinônimo, muitas vezes, de atrasado, arcaico, enquanto moderno carrega o sentido do contemporâneo, do novo. O dualismo está impregnado na nossa visão de mundo e pensamos, na maioria das vezes, a sociedade em termos dessas duas polaridades.
Os nossos automóveis viram carroças perto da produção de carros produzidos nos centros dinâmicos do capitalismo. O Brasil precisa entrar na modernidade com alguma pressa senão perde o bonde da história, dizem os nossos políticos e nossos presidentes em viagem pelo mundo da modernidade.
A tradição, o velho, têm sido ainda os fantasmas não exorcizados nesses dois Brasis que insiste manter em suas estruturas símbolos e códigos ditos modernos, convivendo com formas arcaicas de produzir e pensar. A imagem mais impressionista é testemunhada pela foto de um índio amazônico manuseando uma moderníssima filmadora de vídeo-cassete, foto estampada em um dos números da revista Time.
 O Brasil parece ter pressa em entrar no mundo da modernidade, mas não consegue dar conta das suas ambigüidades internas. (daí porque um conhecido economista brasileiro criou a expressão belíndia para caracterizar a nossa sociedade). Nós temos o carro último modelo, uma parcela da população consome produtos sofisticados da indústria eletrônica mundial, mas socialmente conservamos uma estrutura social perversa.  É a nossa modernização conservadora, do capitalismo tardio, como alguns preferem chamar.
Há muitos anos as ciências sociais vêm trabalhando com essa temática. Diríamos, mesmo, que desde o nascimento das ciências sociais no Brasil, esse vem sendo um dos eixos centrais que orientaram (e vem orientando, ainda ) as suas discussões.
 As primeiras formulações conceituais nesse campo surgiram a partir da década de 50, sendo, posteriormente, submetida a uma severa crítica. O uso (e abuso) desse conceito iniciou-se com certa matriz sociológica desenvolvida nos Estados Unidos com seus estudos comparativos sobre as sociedades ditas subdesenvolvidas , termo que aparece depois da Segunda Guerra Mundial, usado para caracterizar as sociedades que se encontram em processo de trânsito, de mudança, da tradição para a modernidade.
Os estudos desse período têm como eixo central, portanto, a compreensão das sociedades ditas tradicionais a partir de modelos de uma sociedade industrializada e urbanizada, as sociedades integradas ao sistema capitalista.
 Modernização, nesse sentido, passa a ser associada à difusão dos modos de vida, valores e concepções de uma sociedade urbana industrial para as sociedades tradicionais. A marca substantiva do conceito, pelo menos nas ciências sociais em certo tempo, associa subdesenvolvida, a repetição de características econômicas da estrutura social, psicossociais e de organizações políticas das sociedades norte-americanas tradicionais.
Estudos sociológicos no Brasil na década de 60 e 70 estão fortemente marcados por esse paradigma, como podemos observar nos trabalhos iniciais de Florestan Fernandes, Octávio Ianni, Antônio Cândido e outros, onde a tentativa é compreender, através dos estudos de comunidades, do negro, do folclore, a persistência da tradição, reunindo diferentes tipos de descrição, buscando compreender “os êxitos e fracassos da revolução burguesa em processo.”[1]  Estudos de caso  sobre os caipiras, sertanejos, a formação das cidades, as sociedades tribais, eis os temas que vão marcar as ciências sociais nesse período.
Seu enfoque central é descobrir e analisar a persistência dentro da sociedade brasileira de  formas tradicionais  de cultura e, à partir daí, compreender as tendências das mudanças e suas resistências. O processo de modernização é visto como um complemento de etapas na qual um complexo conjunto de variáveis iriam se transformando mais ou menos homogeneamente em sucessivas aproximações para chegar, então, à modernidade.
Prevaleciam as idéias de que as sociedades subdesenvolvidas reproduziriam o mesmo percurso das sociedades modernas já integradas ao sistema capitalista. Isso marcou e influenciou muitos trabalhos de investigação nas ciências sociais no Brasil e na América Latina, de uma maneira geral. [2]
As premissas dessas concepções não resistiram às críticas, originadas principalmente de uma matriz de análise marxista, questionando duramente o dualismo ahistórico das teorias funcionalistas em franca difusão no meio acadêmico. Esses modelos de análise sustentam-se na teoria de que “as sociedades latino-americano  pertenceriam a um tipo estrutural dominando geralmente a sociedade tradicional , em que estaria produzindo a passagem a um outro tipo de sociedade chamada moderna.  No curso do processo de mudança social, pareceria que, antes de se constituir a sociedade moderna, forma-se um padrão intermediário, híbrido, que caracteriza as sociedades dos países em desenvolvimento. Quando não, formam-se situações outras que permanecem arcaicas. Invoca-se então a noção de dualismo estrutural. Na realidade, metodologicamente, trata-se da velha dicotomia comunidade sociedade  um sua forma clássica em Tonnies.[3]
Ainda segundo Cardoso,[4] “é possível criticar esse esquema com certo fundamento segundo dois pontos de vista. De um lado, o conceito de  tradicional e  moderno  não são  bastante amplos para abranger de forma precisa todas as situações sociais existentes, mas permitem distinguir entre elas os componentes estruturais que definem o modo de ser das sociedades analisadas e mostram as condições de funcionamento e permanência. Tampouco se estabelecem os nexos inteligíveis entre as diferentes etapas econômicas e os diferentes tipo de estrutura social que pressupõe as sociedades tradicionais e as  modernas.”
Para ele, “quando se trata de vincular a análise estritamente econômica à compreensão do desenvolvimento político e social, o problema a ser formulado não é somente o caráter da estrutura social de uma dada sociedade, mas principalmente o processo de sua formação, como também a orientação e tipo de atuação das forças sociais que pressionam para mantê-la ou modificá-la, com todas as suas repercussões políticas e sociais que impliquem o equilíbrio dos grupos tanto no plano nacional, como no plano externo. Acho, por outro lado, que as análises do modernismo e do tradicionalismo parecem excessivamente simplificados quando se estabelece um relação unívoca, por um lado entre subdesenvolvimento e sociedade tradicional.”[5]
A partir de trabalhos, como este citado, começaram a surgir críticas mais radicais a essas concepções, pondo em dúvida, inclusive, os conceitos de tradição e modernidade e concebendo a mudança social numa outra perspectiva. O conceito de modernidade enquanto sucessivas aproximações das sociedades ditas desenvolvidas, que através de etapas iam naturalmente se incorporando à modernidade foram pouco a pouco sendo criticada, apesar de persistirem como paradigmas para entender a questão da modernidade. Mesmo o enfoque sociológico mais recente, que dá um peso à compreensão das características estruturais de regiões subdesenvolvidas, não se afasta, ainda, de algumas categorias anteriores.[6] Alguns consideram que, apesar desse conceito ter dominado as ciências sociais durante pelo menos uma década e de haver orientado valiosas investigações, pertencem a lista dos instrumentos técnicos fundamentais superados. Existe o uso de termos que chegaram a inspirar trabalhos na América Latina, mas já restritos a aspectos muito mais limitados e com a explícita noção que devem ser incorporados a modelos descritivos e explicativos muito diferentes dos utilizados nas versões originais desse conceito.
Num outro pólo de discussão é importante destacar o que estamos entendendo por tradição.  Não vamos entrar na discussão em profundidade sobre essa questão, pois sabemos que ela não se esgota nos domínios das ciências sociais.
. Tradição pode se entendida como um modo de comportamento ou padrão produzido por um grupo distinto que serve para intensificar a consciência de um grupo e a sua coesão. O que está presente quando se discute o conceito de tradição é a idéia de continuidade, estabilidade e vulnerabilidade. É o conjunto da sabedoria coletiva, incluindo a tradição do grupo. Nesse sentido, o peso da tradição, sua autoridade, deriva da crítica implícita daqueles que preferem confiar no seu próprio conjunto de razões. Tradição, portanto, é freqüentemente entendida como fonte de legitimidade.
Não pretendo, aqui, fazer um balanço crítico das concepções que vêm fundamentado as ciências sociais, nem entrar na discussão sobre as razões pelas quais persistem em nossa estrutura social elementos ditos tradicionais ou arcaicos. A intenção é compreender as implicações das categorias moderno e tradicional na construção de um paradigma de análise nas ciências sociais, em especial na sociologia. Essa, segundo o nosso ponto de vista, é uma das razões da crise das explicações sociológicas no mundo contemporâneo. Como trabalha com processos de mudança diacrônico, numa perspectiva teleológica, tão própria do pensamento iluminista evolucionista, a sociologia acaba sendo aprisionada por uma visão totalizadora, muitas vezes reducionista, como se os processos sociais, as mudanças, ganhassem significado somente quando apreendidas nesta perspectiva. Uma exceção no campo das ciências sociais é a antropologia, que, por trabalhar com sociedades fora do tempo iluminista, como as ditas sociedades tribais ou primitivas, é obrigada a desfazer-se de teorias totalizadoras e das visões lineares presentes nas análises evolucionistas.[7] A antropologia, com o estruturalismo, vem nos mostrando que as sociedades primitivas não são um amontoados irracionais de indivíduos selvagens, mas, pelo contrário, mostra-nos que na sua aparente selvajaria encontra-se uma estrutura extremamente complexa, com seus mitos, as relações de parentesco e as trocas.[8] A historiografia contemporânea, vem questionando a visão linear das análises evolucionistas que trabalham com uma visão de história unívoca. Habermas[9], por exemplo, nos mostra que “desde o fim do século XVIII a história é concebida como um processo mundial que gera problemas. Nele o tempo é entendido como um recurso escasso para a superação prospectiva dos problemas que o passado nos legou. Passados exemplares no qual o presente pudessem confiantemente orientar-se - diz ele - esvanecerem-se. A modernidade já não pode emprestar seus padrões de orientação de modelos de outras épocas. Ela encontra-se completamente abandonada a si mesma, tem que extrair de si a sua normatividade. Daqui em diante, a atualidade, o autêntico, é o lugar onde se entrelaçam a continuação da tradição e a inovação.”
O que significa isso concretamente para as ciências sociais? Habermas, na verdade, está nos propondo outras formas de sentir, pensar e analisar isso que nós sociólogos chamamos de sociedade. A análise marxista, por exemplo, trabalhou com uma noção de história onde o tradicional era visto como um fantasma a ser exorcizado. A cultura de folk, a sociedade sertaneja, enfim, todos os modos primitivos (ou asiáticos) eram considerados reminiscência de uma tradição que só seria expurgada com o desenvolvimento das forças produtivas. É por isso que Marx saudava com entusiasmo a colonização inglesa na Índia.
Nesta época de globalização a sociologia  não conseguiu se desvencilhar  de seus velhos paradigmas. A modernidade continua a ser pensada como um processo a ser induzido de fora. Em muitas áreas de produção sociológica a ideologia desenvolvimentista transmutou-se no discurso da globalização. Se antes o desenvolvimento era encarado como uma tarefa urgente, cabendo a responsabilidade ao Estado, hoje a palavra de ordem é a incorporação no mercado internacional e o Estado Mínimo. Se antes os sociólogos eram os “intrépidos agentes da mudança social”, produzindo novas explicações sobre a realidade social, hoje uma parcela grande de sociólogos que, no passado eram críticos, tornaram-se hoje intrépidos agentes da integração a todo custo no mercado internacional. A sociologia como pensamento crítico para a construção de uma sociedade utópica perdeu o seu vigor e se tornou “realista”.
Essa tendência já era observada por alguns  sociólogos estudiosos da sociologia latino-americana. Morande,[10] nos mostra, por exemplo, que apesar das divergências que se observam nas obras produzidas sob perspectivas ideológicas e políticas distintas, em todas elas havia uma  valorização positiva da modernidade  (o grifo é nosso),por desejável ou inevitável, e a percepção de que era necessário realizar ações modernizadoras no conjunto da vida social e institucional de uma forma racional e planejada. Nesse sentido, poderíamos dizer, que a sociologia entre nós é filha do anseio pela modernidade e sua razão de ser.[11]
Hoje uma parcela considerável dos teóricos da sociologia, principalmente os mais críticos, questiona com bastante veemência os paradigmas nas quais se assentaram as ciências sociais até agora. Um desses paradigmas é exatamente a concepção de desenvolvimento. Emerge uma consciência cada vez mais forte que esse desenvolvimento está associado com a degradação do meio ambiente e que é necessário, para conter essa degradação, mudar o atual modelo de desenvolvimento econômico. Na sociedade há uma acalorada discussão puxada por ecologistas, pacifistas, organizações não governamentais, governos etc no qual sociólogo, junto com ambientalistas, cidadãos comuns, e outros atores sociais são obrigados a repensar as velhas noções de progresso e o próprio sentido das relações sociais. A discussão sob a Biodiversidade está exigindo um novo tipo de regulação social. Há uma consciência cada vez maior de que o planeta é um patrimônio universal e que, se continuarmos com os desmatamentos, a poluição, usando tecnologias sem critérios racionais, acabaremos sucumbindo nas nossas promessas faustianas.
A sociologia vive em uma fase de transição paradigmática. Uma transição que está exigindo mudanças radicais de perspectivas, principalmente porque, até agora, vem alicerçando seus pressupostos na tentativa de compreender e estudar sociedades nacionais, como no século XIX, quando a sociologia surgiu, enquanto o mundo contemporâneo, quase no limiar de um novo século, está exigindo respostas absolutamente novas para enfrentar novos desafios. Um desses fenômenos é a globalização, com todas as suas implicações econômicas, políticas e culturais. Imagens otimistas e catastróficas associa-se a seu nome, e, perplexa e assustada, a sociologia sente os efeitos da explosão da modernidade que ela ajudou  a criar. No momento em que a versão  neo-liberal, reforçado pelo colapso do socialismo real  tornou-se hegemônico esfarelou-se as utopias. A sociologia, como não poderia deixar de ocorrer, entra em crise. Acabaram-se as tarefas da sociologia?
Cabe à sociologia o papel que sempre teve diante da realidade social. Um desses papéis, ressaltado pelo professor Boaventura[12] em uma de suas conferência em que estive presente, é exercitar “no meio de tantas evidências e certezas” a “hermenêutica da suspeição”, o que não significa se colocar em posição defensiva, recorrendo aos velhos referenciais, mas buscar novos tipos de explicações para fenômenos sociais absolutamente novos que estamos presenciamos. Há uma gama de questões abertas para a pesquisa sociológica na atualidade. Temáticas voltadas para o significado do trabalho na sociedade contemporânea, o impacto das novas tecnologias, as novas formas de sociabilidade e identidades culturais, os conflitos interétnicos, religiosos, problemas relacionados ao eco-sistema etc. são algumas questões que estão na ordem do dia, exigindo o desenvolvimento de competências bastante diferentes do passado.[13]
Um outro campo bastante rico e amplo que está exigindo criatividade e análise científica da sociologia relaciona-se aos problemas locais na sua articulação com os mais globais. Como nos mostrou Boaventura  a globalização é sempre parte dos localismos, hoje dinamizados pelas amplas possibilidades que a mídia e a informática abriram. As culturais locais ganham dimensões planetárias quando são capazes de desenvolver competências regionais, nacionais. Esse é o sentido da globalização que, aparentemente,  homogeneiza tudo, quando, na verdade, abre possibilidade das singularidades se manifestarem. Hoje, por exemplo, com a movimentação de pessoas circulando pela terra, como o turismo, o que é singular, exótico, regional ganha uma dimensão inimaginável no mundo contemporâneo. Daí a importância das culturas locais, do resgate das tradições, da língua, da história do lugar onde se vive e trabalha. O sociólogo, o antropólogo e outros cientistas sociais têm uma imensa tarefa pela frente. Trata-se de mergulhar no seu vernáculo, conforme a expressão de Boaventura, para se tornar universal. Nunca foi tão claro para a sociologia - como foi para a literatura - que não há possibilidade da universalização sem o desenvolvimentos dessas competências locais, o que não significa de forma alguma isolamento social e cultural, nem um nacionalismo xenófobo e estreito. São sociedades que, apesar de viverem em tempos de desenvolvimento diferentes, convivem com as  singularidades, as diferenças, os conflitos etc. Hoje, por exemplo, não dá para o cientista social compreender a Amazônia  sem relacioná-la com o que ela significa para o mundo em termos de eco-sistema, assim como não é possível entendê-la, também, se não a conhecemos na sua especificidade, com suas riquezas biológicas, minerais e sociais Compreender o local na sua articulação com o global, e vice versa, é um desafio para as ciências sociais contemporâneas, o que certamente exigirá mudanças radicais na formação do futuro cientista social. A interdisciplinariedade, o conhecimento da política internacional, uma visão menos etnocêntrica e mais voltada para compreensão da heterogeneidade política, econômica e cultural passará, certamente, fazer parte do perfil  do futuro cientista social.
Numa sociedade em que a modernidade não se concretizou, temos tarefas modernas para realizar. Talvez por isso as promessas desenvolvimentistas da sociologia latino-americanas nestas quatro décadas ainda têm seu apelo, mesmo que desprovidas de seus aspectos revolucionários e utópicos ( a “utopia desarmada”, do qual se referia o escritor mexicano ). Mas, em “uma sociedade que vem se modificando muito rapidamente, tornando-se cada vez mais heterogênea, diferenciada, com novas clivagens surgindo e cruzando transversalmente a estrutura de classe, desfazendo identidades tradicionais, criando outras tantas e gerando uma pluralidade de interesses e demandas nem sempre convergentes”,[14] é tarefa, também, a sociologia “desafiar a imaginação política” e “tornar comensurável a heterogeneidade inscrita na vida social, “criando novos direitos e inventando e reinventando novas sociabilidades.
Esperamos ter contribuindo com essas reflexões para o debate cada vez mais necessário nas ciências sociais, o que só poderá ocorrer se sairmos de nossos nichos e da letargia que nos assola no fim desta era dos extremos, segundo a expressão utilizada por Erich Hobsbaw[15] para caracterizar o confuso século que agonizou. A sociologia há de renascer das cinzas. Ou não... Se renascer certamente não será matizada pelos velhos paradigmas que marcaram o seu surgimento no alvorecer na modernidade, já um capítulo da velha tradição sociológica.
Creio que todos esses problemas que aqui abordei de forma bem restrita tem a ver com nossa região, a Amazônia, hoje na pauta de discussão internacional, por causa, principalmente de seu eco-sistema e sua biodiversidade.
Lúcio Flávio Pinto, no seu último livro, Guerra Amazônica, nos oferece, por exemplo, uma espécie de esboço de modelo para pensarmos o papel da ciência e da tecnologia na Amazônia. Seu esboço, meio saint-simoniano, deixa pistas importantes para reflexão, principalmente quando aborda o papel da universidade na região, que vale a pena ler e meditar. Mas só tornaremos isso realidade quando, conforme nos advertiu Boaventura da Silva, nossas competências locais deixarem seu complexo de inferioridade e tomarem para si o desafio de pensar a Amazônia a partir de debates inteligentes. Isso significa repensar a sociologia amazônica (se é que existe) em outros parâmetros.



[1] Ver os estudos de Sociologia dessa época, como os trabalhos de Florestan Fernandes em Comunidade e Sociedade, Editora EPU; os trabalhos de Fernando Henrique Cardoso, buscando compreender a sociedade capitalista e as classes sociais no Brasil; o esforço de Octávio Ianni, no seu livro Metamorfose do Trabalho Escravo, Trabalho e Desenvolvimento no Brasil, de Luiz Pereira; Homens Livres na Ordem Escravocrata, de Maria Silvia Carvalho Franco. Sociedade Industrial no Brasil, de Juarez Lopes Brand
[2] É interessante observar que apesar das críticas feitas a essas concepções, de certa formas elas, com outra linguagem, reaparecem nos dias de hoje, travestidas na discurso da globalização.
[3] CARDOSO,Fernando Henrique. Dependência e Desenvolvimento na América Latina. Ed. Zahar  p.16-17
[4] Op.cit.
[5] Op.cit.
[6] A Chamada teoria da dpendência, que surge como uma crítica às teorias do CEPAL, reivindicando a necessidade de analisar cada formação histórica em particular, “a relação interna das classes sociais”, que dá fiosonomia própria da dpendência, conforme as análises de Cardoso e Falleto, não consegue se desvencilhar também de uma concepção evolucionista, própria de uma vertente do pensamento marxista.
[7] Aqui estou me referindo à tradição antropológica que começa com Malinowski na sua análise sobre os trodiandeses. Morgan e outros antropólogos não tinham ido à campo e estavam profundamente impregnados das teorias darwinistas. Essa concepção inspira as concepções evolucionistas de Engels.
[8] Ver Strauss, Levi. Estruturas Elementares do Parentesco. Editora Vozes, RJ. Ver, também, O Pensamento Selvagem Cia Editora Nacional - SP
[9] HABERMAS, J.A. A Nova Intrasparência : A Crise do Estado de Bem-Estar Social e o Esgotamento das Energias Utópicas. Novos Estudos CEBRAP, p.18
[10] MORANDE, P. La Crises del Paradigma Modernizante de la Sociologia Latino-Americana. Revista de Estudos Sociales, n.33, 1982, p. 117.
[11] “A sociologia deu seus primeiros passos rumo à sua consolidação e institucionalização na mesma época em que se colocava em discussão a problemática do desenvolvimento. Nos anos 40 e 50, quando a ideologia desenvolvimentistas empolgou boa parte da intelectualidade latino-americana e conquistou a adesão das forças sociais heterogêneas ao projeto de consolidação do capitalismo urbano-industrial, lançaram-se as bases institucionais da produção sociológica latino-americana. A criação do CEPAL, no Chile, em 1948, é um exemplo da preocupação de alguns governos - em particular o Chile, autor da proposta, e do Brasil - com os obstáculos que entravavam o desenvolvimento, ou seja, com o trânsito das sociedades tradicionais para as sociedades modernas. Coube a ela  um papel de destaque no desencadeamento do processo de emancipação do pensamento latino-americano em relação aos centros de produção científico situado nos países desenvolvidos. Também com esse objetivo fundaram-se, no decorrer dos anos 50, a Faculdade Latino-Americano de Filosofia e Ciências Sociais (FLACSO), o Insituto Latino Americano de Planificação Econômica e Social, ambos no Chile, e o  Centro Latino Americano de Pesquisas Sociais, sediado no Rio de Janeiro, bem como os cursos de Sociologia em várias Universidades do continente.” ( Ver SOARES, Maria Susana Arrosa. Sociologia Modernizante na América Latina. Revista Perspectiva  - Fundação SEADE, vol. 5. N. 1 )
[12] Ver Globalização, Identidades Locais e Pós-Modernidade Contestatória : Desafios da Sociologia na Final do Século. Transcrição da Conferência do professor Boaventura de Souza proferido na Universidade Federal do Ceará em setembro de 1995. Transcrição feita por Benedito Carvalho Filho.
[13] “O sociólogo é muito dominado por uma hermêutica da suspeição - como dizia Paul Ricoeur. Isto é, nós temos que desconfiar das evidências, das obras fechadas, como diz Durkheim e, mais tarde Boudieu. Vamos então tentar analisar com mais cuidado isso que se chama hoje de globalização. E isso tem muito a ver com questões estruturais, como os movimentos sociais, o Estado, as políticas culturais e sociais. Tudo isso, de alguma maneira, está envolvido no processo de globalização.”( SANTOS, Boaventura de Souza. Op. Cit. ). Diz o professor na sua conferência que o sociólogo na época contemporânea tem que ser capaz de trabalhar com outros profissionais e estudar coisas que jamais pensou em estudar, como ecologia, direito internacional etc.
[14] Ver TELLES, Vera da Silva. Pobreza, Movimentos Sociais e Cultura Política : Notas sobre as difíceis relações entre Pobreza, Direitos e Democracia, in Brasil no Rastro da Crise. DINIZ, Eli. Et alli (Organizadores) Editora Hucitec e ANPOCS-IPEA, São Paulo, 1994.
[15] HOBSBAWM. A Era dos Extremos. Editora Cia das Letras, SP, 1995

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